DARVO nos Processos Judiciais: o poder manipulador e a perspectiva de gênero

É fundamental que os profissionais de direito recebam treinamento específico para identificar padrões manipulativos

Mariana Tripode
Por Mariana Tripode  - Advogada 3 Min Leitura
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O DARVO (Negar, Atacar e Inverter a Ordem de Responsabilidade) é um fenômeno psicológico identificado em situações de conflito, especialmente em casos de abuso e agressão. Descrito por Jennifer Freyd, esse padrão de comportamento envolve o agressor negando suas ações, atacando a vítima e, finalmente, invertendo os papéis, apresentando-se como a verdadeira vítima. Essa dinâmica pode ter um impacto significativo em processos judiciais, particularmente quando analisada sob a perspectiva de gênero.

DARVO pode levar a decisões injustas

Nos casos de violência doméstica e de gênero, o DARVO é frequentemente usado por agressores para manipular o sistema jurídico, complicando ainda mais a posição da vítima. Mulheres que sofrem abusos enfrentam o desafio de provar suas alegações enquanto lidam com a estratégia do DARVO, que busca desacreditá-las e apresentar o agressor como a parte mais vulnerável. Essa inversão de papéis pode influenciar juízes e júris, levando a decisões injustas.

Estudos, como os de Boyd et al. (2017), mostram como o DARVO pode obscurecer a verdade e distorcer a percepção da justiça. Vítimas de abuso, em sua maioria mulheres, frequentemente enfrentam a revitimização durante o processo judicial, onde suas ações são minuciosamente questionadas, enquanto os agressores manipulam a narrativa para se apresentarem como vítimas.

A dinâmica de gênero é importantíssima nesse contexto. Mulheres vítimas de abuso podem ser duplamente prejudicadas pelo DARVO, enfrentando tanto a violência inicial quanto a dúvida lançada sobre suas alegações durante o processo legal. A sensibilidade de gênero é essencial para lidar com o DARVO nos tribunais, reconhecendo as nuances desse comportamento e o contexto de poder entre as partes envolvidas.

Treinamento para identificar padrões manipulativos

É fundamental que os profissionais de direito recebam treinamento específico para identificar padrões manipulativos como o DARVO, garantindo que as vítimas recebam o suporte necessário para relatar suas experiências sem medo de retaliação. O DARVO não é apenas uma estratégia manipulativa, mas também um reflexo das dinâmicas de poder profundamente enraizadas em questões de gênero.

Reconhecer e combater o DARVO nos processos judiciais é crucial para garantir a justiça e proteger as vítimas de abuso. A perspectiva de gênero deve ser um elemento central na busca por equidade e verdade nos tribunais, assegurando que a manipulação não comprometa o direito à justiça.

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Posted by Mariana Tripode Advogada
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Advogada formada pela Universidade de Mogi das Cruzes /SP desde 2012. Especialista em Direito da Mulher e Direito de Gênero pela escola da Magistratura do Distrito Federal, pós-graduanda em Direitos das Mulheres e Práticas para uma Advocacia Feminista pela Escola Superior de Direito, pós-graduanda em Ciências Criminais e Interseccionalidades pela Verbo Jurídico. Foi Presidente da Comissão da Mulher da ABA Brasília – Associação Brasileira dos Advogados, idealizadora do primeiro escritório de Advocacia Para Mulheres no Distrito Federal e CEO da Escola Brasileira de Direitos das Mulheres-EBDM.
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