Eufemismos e o desenvolvimento de competências comunicativas

A leitura crítica do uso desses eufemismos e o questionamento claro sobre como, quando e se devemos usá-los deve, passar pelo crivo da criticidade em nossa formação

Sandra Mara Bessa
Por Sandra Mara Bessa  - Professora 3 Min Leitura
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Imagem: Freepik
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A aquisição da comunicação escrita é uma das funções da escola, cujo investimento nas áreas de linguagens só se iguala à dedicação à área de matemática. Desenvolver as competências comunicativas, portanto, configura-se como uma demanda social das mais valorizadas no contexto pessoal e profissional. E quando se fala de tal competência, remetemos à habilidade de utilizar a língua para ler e produzir textos adequados aos mais diferentes contextos de enunciação. E o que tem a ver os Eufemismos com isso tudo?

Na esteira do politicamente correto ou das intencionalidades implícitas nos discursos praticados nas mais distintas circunstâncias de uso da língua, são muitos os que recorrem aos eufemismos para mascarar realidades adversas ou inadequadas sob as perspectivas dos falantes ou dos ouvintes. A questão que fica, no entanto, é saber se a alteração do nome que damos às situações altera seu status quo ou apenas altera-se a forma como comunicamos sem de fato alterar a realidade. Isso não implica dizer que o uso dos eufemismos sempre seja negativo, posto que podem contribuir para superar questões de preconceitos bastante arraigadas em nossa fala.

Realidade maquiada

Nesse sentido, o eufemismo, longe da proposição que aprendemos nos bancos escolares, não serviria ao fim de amenizar o que se quer dizer, como nos constantes exemplos dados ao se referir à “morte” como “passagem desta para melhor”. Ao contrário, o uso de eufemismos para maquiar a realidade pode prejudicar a busca por soluções efetivas para os problemas à medida em que essa mesma realidade é descrita de forma a se acreditar em uma não gravidade ou em um processo que vem melhorando.

Assim, tornou-se corriqueiro recorrer a expressões como “hipossuficiência financeira” para se referir à “pobreza”. Ou “omissão da verdade” no lugar de “mentira”. Talvez ainda “acumular capital por meios ilícitos” ou “apropriar-se dos bens de terceiros” no lugar de “roubar”. Para além do uso recorrente desses eufemismos, também encontramos com facilidade situações em que o uso ou não de um eufemismo se faz de maneira seletiva. Para alguns grupos sociais, não há a necessidade de se recorrer a eles, mas para outros, é quase uma obrigação moral.

Retornando à imprescindibilidade de se desenvolver competências comunicativas, havemos de estar atentos às armadilhas de linguagem que nos são impostas sem que nos apercebamos e, ao utilizá-las, estaremos corroborando com as intencionalidades, nem sempre autênticas e transparentes, que circundam os discursos em nossa sociedade. A leitura crítica do uso desses eufemismos e o questionamento claro sobre como, quando e se devemos usá-los deve, sem dúvida nenhuma, passar pelo crivo da criticidade em nossa formação.

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Posted by Sandra Mara Bessa Professora
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Gestora de projetos e especialista em Educação
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