Alimentação infantil: a fome pode ser sua aliada

Devemos criar memórias afetivas positivas associadas ao momento da alimentação, com paz, alegria e tranquilidade

Dr. Tiago Oyama
Por Dr. Tiago Oyama  - Pediatra 4 Min Leitura
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Uma queixa muito frequente no consultório é “meu filho não come bem”, ou “ele é muito seletivo”, ou ainda “ele não come verduras e frutas”. Bem sabemos que a alimentação saudável é o alicerce para otimizar o crescimento dos nossos filhos, bem como desenvolver plenamente a imunidade, melhorar o desempenho físico e intelectual, evitar doenças (como diabetes), e ainda a base para evitar o sobrepeso/obesidade infantil (20 a 30% das crianças). O corpo bem nutrido, nos horários adequados, pode melhorar até o humor (e diminuir as birras)! Então, criar hábitos saudáveis na alimentação é uma arte que, uma vez plantada na primeira infância, colheremos os frutos durante toda a infância e adolescência, quiçá, por toda a vida!

O primeiro desafio que passo é para os pais e cuidadores refinarem seus próprios hábitos alimentares, com horários definidos e cardápios bem variados, ricos em legumes, verduras e frutas, desde o período da gestação e amamentação, uma vez que o bebê sente sabores no líquido amniótico e no leite materno, tendo mais facilidade de aceitar tudo o que a mamãe ingere nestes períodos. Pais que se alimentam bem geralmente têm filhos que comem uma boa variedade de frutas e verduras.

Dicas para criar bons hábitos alimentares

É sabido que a criança até os dois anos vai experimentar, repetidas vezes, até seu paladar aceitar como bom e agradável, os mais variados sabores que estiverem à sua disposição, e com mais vontade e interesse se tiver mais pessoas comendo juntos. A dica é programar as refeições, desde a introdução alimentar, junto com os filhos, uma vez que a força do exemplo incentiva nessa fase a experimentação repetitiva. Quando a criança adquire autonomia para comer sozinha, geralmente entre 12 a 18 meses, se torna mandatário comer na companhia de adultos e outras crianças.

Além do exemplo, o segundo grande aliado para criar bons hábitos alimentares é “sentir fome”, um capítulo que dá um frio na barriga e mexe com a ansiedade de pais e cuidadores. Sabendo que o tempo de esvaziamento gástrico médio é de três horas, programar os lanches antes das refeições principais (almoço e jantar) com antecedência de 3 horas, sem beliscos nem sucos, oferecendo apenas água nesse período, gerando a sensação de fome, claro que podendo antecipar a refeição se aparecer sinais claros de fome (procura exagerada por alimentos, discreta irritabilidade, inquietude). Nessa hora, iniciar a refeição pelo alimento que estiver apresentando menor interesse no dia-a-dia (geralmente as verduras, às vezes, a proteína do dia). Por outro lado, pode-se retardar um pouco a refeição se a criança apresentar desinteresse nesse horário; ou então, “diminuir” a quantidade dos lanches oferecidos previamente podem ajudar a aumentar o apetite. Por fim, oferecer o mesmo prato/cardápio após trinta minutos, se comeu muito pouco.

Em tempo, como sempre falo no consultório, devemos criar memórias afetivas positivas associadas ao momento da alimentação, com paz, alegria e tranquilidade; sem obrigar a comer e nem chantagens (como celulares/TV nas refeições, ou promessa de doces na sobremesa), sem tensões ou cobranças ( mais vale brincar de atacar o que tiver no prato da criança!!). Afinal, esse período passa muito rápido, e quando você se der conta, ele já cresceu e “adolesceu” (adolescência, fase exuberante, novos desafios!).

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Posted by Dr. Tiago Oyama Pediatra
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Graduado em Medicina pela Universidade de São Paulo (Campus Ribeirão Preto); Residência Médica em pediatria no Hospital das Clínicas da USP - Ribeirão Preto; Residência Médica em Terapia Intensiva Pediátrica; Especialista em Pediatria pela Sociedade Brasileira de Pediatria; Especialista em Terapia Intensiva Pediátrica pela Sociedade Brasileira de Pediatria.
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