Maria da Glória Nascimento de Lima, conhecida por todos como Glorinha, nasceu em Buíque, Pernambuco, em 1945. Ela nunca soube a data exata de seu nascimento, mas sua vida foi marcada por algo muito maior: o amor e a generosidade que ela espalhou ao longo dos anos. Órfã desde muito pequena, Glorinha foi deixada na porta de um convento em Juazeiro do Norte, cidade de Padre Cícero. Lá, foi acolhida pelo Frei Jesualdo e, posteriormente, adotada por Nemésio, filho adotivo de Padre Cícero. Mesmo tendo enfrentado o abandono tão jovem, Glorinha cresceu com um coração cheio de compaixão e a firme decisão de tornar o mundo um lugar melhor.
Aos oito anos, quando ainda era apenas uma criança, Gorinha tomou para si a responsabilidade de acolher seu primeiro bebê. Esse gesto tão precoce foi o início de uma jornada que transformou inúmeras vidas. Ela fundou o “Lar da Criança Padre Cícero”, um refúgio seguro que, ao longo dos anos, abrigou mais de 2.500 pessoas. Eu sou uma delas.
Lembro-me com carinho da casa cheia, sempre movimentada. Éramos muitos, mas nunca faltou o cuidado ou o apoio da tia Gorinha “minha mãe”. Mesmo com tantos desafios, ela nunca deixou de nos prover o que precisávamos. Trabalhava incansavelmente, vendendo roupas e joias, batalhando para nos alimentar e proteger. Com a coragem de uma leoa, defendia-nos de qualquer preconceito ou ameaça. Seu amor era tão grande que se estendia a todos nós, sem distinção.
Força e sabedoria
Hoje, como mãe, percebo o quão extraordinária foi sua caminhada. Criar tantos filhos, e criá-los bem, é algo que exige uma força e uma sabedoria incomparáveis. Cada um de nós teve oportunidades, estudamos, crescemos e muitos se formaram. Ela, com sua linguagem de amor, nos ensinou o valor de servir ao próximo. Serviu a todos com excelência, mesmo quando o reconhecimento não vinha. E nunca desistiu.
Agora, adulta, entendo o porquê de cada lição, cada advertência. Se sou a pessoa que sou, devo a ela, à sua firmeza, ao seu amor incondicional. Em nossa grande família, todos carregam um pouco da sabedoria e dos ensinamentos que ela nos deixou. Tia Gorinha era linda, sempre cheirosa e vaidosa. Quando cheguei ao seu lar aos 6 anos, perdida, sem um exemplo a seguir, ela foi como um farol que iluminou minha vida. Mostrou-me quem eu era e quem eu poderia ser. Foi a base, não só para mim, mas para milhares de pessoas que tiveram o privilégio de conhecê-la.
Mesmo com o coração apertado por sua ausência, sinto uma profunda gratidão. Nosso sol foi promovido, e como sentimos sua falta! Mas, com a certeza de que sua luz continuará a nos guiar, seguiremos em frente, honrando seu legado de amor, coragem e sabedoria. Obrigada, Mãe/Tia, por tudo. Você será eternamente nosso farol.