O sujeito que aprende está sempre na centralidade das discussões sobre a educação que se dá por meio da transposição didática do conhecimento científico produzido para o que se torna passível de se aprender. A partir daí, escolhem-se métodos, procedimentos e recursos os mais variados; teorias surgem sobre a práxis docente e suas implicações na formação de jovens e de crianças; visões de mundo e de sociedade são expostas. Mas o sujeito da aprendizagem está lá, invariavelmente.
Na perspectiva cartesiana, temos o sujeito como ponto de partida. Mas que sujeito é este? É só o sujeito da ciência exata, não o sujeito de uma vivência, não um sujeito existencial. O sujeito de Descartes é aquele do laboratório que consegue diferenciar bem suas questões subjetivas daquelas que lhe são objetivas. Com Kant, também temos o sujeito como ponto de partida. Mas, mais uma vez, não o sujeito da vida, da existência humana, o sujeito que não separa seus estudos de suas inquietações mais profundas. Esse sujeito, como bem o sabemos, não cabe mais nesse mundo. Nosso olhar sobre o mundo não cabe no microscópio de um laboratório.
O que é preciso para educar?
Para educar, é preciso ir além e perceber o sujeito da experiência humana. O mundo subjetivo da incerteza, da provisoriedade, das variáveis infinitas que surgem a cada aposta existencial, a cada risco, a cada aventura, não pode ficar esquecido, pois o conhecimento produzido por nós e que, partindo do sujeito, não poderia matar o próprio sujeito, negando-lhe a própria existência e influência.
Assim, as instituições educativas, a partir das subjetividades, devem desenvolver um processo de autoconhecimento do sujeito no processo de aprendizagem. Cabe considerar que esse autoconhecimento abre a perspectiva para a autonomia e a autogestão que só se expressam pela vinculação absoluta com o contexto, ressignificando o ambiente em sua complexidade, diversidades, demandas e possibilidades.
Cabe à escola e às famílias, portanto, instituir um sentido de envolvimento, responsabilidade, intencionalidade, antecipação, flexibilidade, contribuição, geração e construção que implica uma disposição ética determinada e fundada na compreensão de que o sujeito cognoscente não é unicamente o racional. Enfim, há que se entender que aquilo que aprendemos e significamos, ao longo de nossa trajetória, é fruto do que vivemos e experienciamos individual e coletivamente.