Vítima de um acidente com paramotor em 28 de maio de 2022, Ricardo Amorim, 36, teve mais de 20% da superfície corporal queimada e está prestes a completar um ano na recuperação. “Fui trazido pelo meu irmão direto para o Hran e recebi um pronto-atendimento muito rápido. Veio toda a equipe dar suporte, e isso foi crucial para a minha sobrevivência”, lembra.
“Se eu tenho mobilidade hoje, é por causa da fisioterapia; elas pegam pesado, mas é pensando na minha recuperação. Eu quase não movimentava o meu joelho, e agora mexo 100%”
Ricardo Amorim, paciente do Hran
Durante o voo, um problema no motor incendiou o tanque e, no pouso emergencial, a gasolina foi derramada no corpo de Ricardo. Ele ficou dois meses e meio internado no Hran, onde, além de passar por 17 cirurgias, iniciou o tratamento de recuperação.
“Se eu tenho mobilidade hoje, é devido à fisioterapia; elas [profissionais de saúde] pegam pesado, mas é pensando na minha recuperação. Eu quase não movimentava o meu joelho, e agora mexo 100%. Me sinto muito feliz, nunca pensei que ia voltar a andar”, destaca Ricardo acerca do trabalho realizado pela equipe do Núcleo de Saúde Funcional (NSF) do hospital. Em parceria com a Unidade de Queimados, o setor consegue oferecer cuidado integral ao paciente.
Movimentar é palavra de ordem no NSF, mesmo quando isso parece impensável para uma pessoa queimada e ainda com dores. “Na cicatrização, a pele vai retrair. Para evitar sequelas, o paciente precisa entender a importância da fisioterapia”, explica a fisioterapeuta Karla Ferreira.
“No paciente queimado, a cicatrização precisa ser trabalhada por um ano, pelo menos. Se ele não voltar para a reabilitação, a cicatrização ocorre e vai perdendo movimento. Se não fizer alongamento, retrai e impacta até a capacidade respiratória, quando há queimadura em tronco”
Laura Romano Arcuri, chefe do NSF do Hran
Em 2022, foram registradas 2.732 consultas de pessoas com queimaduras no pronto-socorro do Hran. Já os atendimentos de consultas e curativos no Ambulatório de Queimados foram 2.445, enquanto banho e curativos de grandes queimados sob anestesia totalizaram 521 procedimentos e cirurgias em pacientes queimados, 557.
A chefe do NSF do Hran, Laura Romano Arcuri, reforça que é preciso dar continuidade ao tratamento: “No paciente queimado, a cicatrização precisa ser trabalhada por um ano, pelo menos. Se ele não voltar para a reabilitação, a cicatrização ocorre e vai perdendo movimento. Se não fizer alongamento, retrai e impacta até a capacidade respiratória, quando há queimadura em tronco”.
Cuidado multidisciplinar
A Unidade de Queimados do Hran conta com equipe de médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, nutricionistas, psicólogos, fisioterapeutas e o suporte da assistência social. “Os bons resultados existem por causa dessa atuação multidisciplinar. São diversas linhas de cuidado e olhares em busca de um objetivo único: a cura dos pacientes e a solução do problema”, avalia a enfermeira Rosa Siqueira.
As ações integradas fizeram a diferença para Alysson Paulo Lima, 39. “Em todo o processo, um fator muito importante na minha situação foi essa percepção de que você não está só, que tem um cuidado maior”, conta. Gravemente ferido em 7 de setembro de 2019 ao combater um incêndio perto de casa, ele destaca a agilidade e o tratamento humanizado como pontos diferenciais no atendimento e na recuperação.
Na chegada à Unidade de Queimados do Hran, ainda consciente, Alysson lembra-se de ter sido acalmado pela equipe e informado sobre todos os passos. Durante a internação de 55 dias e cerca de 30 cirurgias, teve o acompanhamento da esposa. “Eu vinha sem acreditar na recuperação. À medida que ganhei amplitude de movimento, me arrependi de não ter feito mais. Me sinto quase 100% adaptado, faço quase tudo que fazia antes, inclusive combater incêndios. Acho que 99%, atribuo totalmente ao tratamento que tive aqui.”
O autônomo é um dos 23 pacientes do Hran que, desde 2018, receberam transplante de pele. Em janeiro, o hospital foi credenciado pelo Ministério da Saúde como centro transplantador – antes, esse procedimento era realizado em caráter emergencial. O transplante de pele recebeu padrão ouro de cuidado.
No NSF, além da fisioterapia, há ainda a terapia ocupacional. “O objetivo é o ganho de função. São brinquedos, objetos, massagem, alongamento, imobilização, com foco na independência do paciente”, exemplifica a terapeuta ocupacional Flávia Porto.
Em busca da recuperação da força nas mãos, Valmir Alves, 52 anos, se empenha semanalmente nas atividades passadas pela equipe. “Com a terapia, tudo se encaminha. Eu não andava; hoje, sim. Agora preciso melhorar a força na mão para retornar ao trabalho”. Ele é eletricista e sofreu um acidente de trabalho que causou as queimaduras e a internação de um mês e três dias: “Fui muito bem atendido por todas as equipes. Isso me acalmou, vinha até um psicólogo conversar com a gente”.
O pronto-socorro de queimados do Hran funciona 24 horas, todos os dias. Após os primeiros cuidados, caso seja preciso, o paciente é encaminhado para a internação. A unidade, além de atender pacientes do Entorno do DF, é referência para o Centro-Oeste, o norte de Minas Gerais e o oeste baiano.