Assassinato brutal de líder quilombola em meio a disputa de terras

Maria Bernadete Pacífico foi executada em seu terreiro; comunidade lamenta e denuncia ameaças

Paulo Cesar Sampaio
Por Paulo Cesar Sampaio 4 Min Leitura
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Há aproximadamente dois meses, Bernadete havia emitido um alerta preocupanteImagem: Divulgação/Conaq
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Yalorixá Maria Bernadete Pacífico, uma proeminente líder do Quilombo Pitanga dos Palmares em Simões Filho (BA), foi brutalmente assassinada a tiros na noite da última quinta-feira (17). O crime ocorreu em dentro de um terreiro no município, e segundo informações, a motivação seria uma disputa fundiária envolvendo a comunidade quilombola.

A triste notícia foi comunicada por lideranças da Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (Conaq) e da Coalizão Negra por Direitos. Um áudio, supostamente gravado pelo neto de Bernadete, trouxe a confirmação dolorosa do crime, que foi corroborada por outros líderes quilombolas. No áudio, o neto, cuja identidade será preservada por questões de segurança, relata a terrível situação: “Gente, sou eu… estou com o notebook, eles levaram o meu celular e de minha avó. Foi verdade, infelizmente, estou com o corpo de minha avó aqui no sofá, minha avó foi executada.” Ele pediu apoio e ressaltou sua preocupação com a segurança de sua irmã e primo pequenos.

Histórico de violência

Os relatos iniciais indicam que Bernadete estava sentada em um sofá no terreiro quando quatro homens armados invadiram o local e começaram a disparar, resultando em sua morte imediata. A tragédia se soma a um histórico de violência no contexto de disputa fundiária que envolvia o Quilombo Pitanga dos Palmares. A comunidade já havia perdido anteriormente, o filho de Bernadete, conhecido como Binho do Quilombo, também foi assassinado em 2017, em um episódio também relacionado a questões de terra.

Nas redes sociais, Silvio Almeida, Ministro dos Direitos Humanos, expressou sua tristeza pelo ocorrido e anunciou o envio de uma equipe da pasta até Simões Filho para acompanhar de perto o caso.

Há aproximadamente dois meses, Bernadete havia emitido um alerta preocupante, afirmando que ela e outras lideranças do Quilombo Pitanga dos Palmares estavam enfrentando ameaças de morte, provenientes de grupos ligados à especulação imobiliária em Salvador, a capital da Bahia. A luta pela preservação da cultura, espiritualidade e história do seu povo foi uma marca registrada de sua trajetória.

O Quilombo Pitanga dos Palmares, liderado por Bernadete, é formado por cerca de 289 famílias e com 854,2 hectares, reconhecidos em 2017 pelo Relatório Técnico de Identificação e Delimitação (RTID) do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). A comunidade já foi certificada pela Fundação Palmares, mas o processo de titulação do quilombo ainda não foi concluído.

Nota de pesar

A Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (Conaq) emitiu uma nota de pesar pela morte de Bernadete, enaltecendo sua dedicação incansável e seu papel inspirador na defesa das tradições quilombolas. A nota ressalta que sua ausência será profundamente sentida, mas suas palavras e exemplo continuarão a guiar as gerações presentes e futuras.

Enquanto as investigações estão em andamento para trazer justiça ao caso de Maria Bernadete Pacífico, sua memória permanecerá como um símbolo da resistência e luta pelos direitos das comunidades quilombolas.

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