Mais uma vez somos surpreendidos pela notícia de ataque a uma escola brasileira em que dois jovens de 16 e 17 anos foram brutalmente assassinados. Não podemos negar a dor de uma família que deixa seus filhos em um ambiente que deveria ser seguro e os encontra mortos. É a expressão própria da barbárie, tendo em vista que o espaço escolar deveria ser propício ao crescimento, à aprendizagem, ao desenvolvimento de nossas potencialidades e ao convívio harmonioso entre crianças, jovens e adultos.
Vemos perplexos o crescimento das violências nas escolas, o que demonstra claramente que ações pontuais de repressão não serão suficientes para coibir tais atos. Foram muitas ações este ano com vistas a dirimir o problema: movimentos pela paz com mobilização de educadores, pais e estudantes; monitoramento de redes sociais; prisões de grupos que incentivavam a violência e aporte financeiro do governo federal; abertura de canais de denúncia, entre outros.
Microcosmo da sociedade
No entanto, precisamos considerar que a escola é como um microcosmo da sociedade que temos. E o que vemos todos os dias é uma sociedade doente, estressada, agressiva. A violência toma conta das ruas nas mais diferentes formas e instâncias, reverberando em forma de preconceitos os mais diversos, além de ataques físicos e verbais… A questão se centra, dessa forma, em buscar saber porque estamos vivenciando tamanha incapacidade de dialogar.
E como microcosmo social, a escola repercute essa realidade. Por isso, é fundamental compreendermos que a violência não vem apenas de fora e adentra os portões das escolas. Infelizmente, a questão é mais grave. Bernard Charlot (2002) indica que temos a violência na escola (quando ocorre no espaço escolar, sem que esteja integrada à sua natureza e atividades); a violência à escola (quando se relaciona à sua natureza, como agressão a professores e vandalismos) e a violência da escola (quando praticada pela instituição escolar, de forma simbólica, em que se estabelecem as relações de poder).
Reconhecer os problemas
Como se pode ver, estamos falhando em educar nossas crianças e jovens no sentido de reconhecer que os problemas, as insatisfações, as discordâncias e as diferenças não devem ser resolvidas por meio da força, do poder e da dominação sobre outrem. Preocupados com conteúdos, estamos esquecendo da necessária formação humana. E aqui cabe um parêntese: não estamos afirmando que a escola deva ser a única responsável pela ação humanizadora e pela formação de cidadãos que consigam racionalizar suas relações com o mundo em que vivem. Mas como dizia Paulo Freire: “Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda”.
Como consequência dessas afirmações, precisamos repensar seja como família, como escola e como indivíduos, qual a nossa parte nesse latifúndio. É fundante educar para a não violência. Mas afinal, educar a quem mesmo? A nós e aos outros… É por meio de uma convivência pacífica, de um olhar acolhedor, de um comportamento baseado na empatia que seremos capazes de alterar o estado atual em que nos encontramos.