Não é de hoje que enfrentamos uma realidade eivada de preconceitos e discriminações contra as minorias no Brasil. Nestes últimos dias, vimos nos noticiários nacionais e internacionais inúmeros casos de racismo envolvendo celebridades do mundo político, artístico e esportivo. Mas todos sabemos que o racismo estrutural e sistêmico não atinge pontualmente e apenas a essas pessoas. Há toda uma população que sofre o impacto de uma sociedade que defende hipocritamente uma democracia racial que não existe de fato.
Nossa coluna vem propor uma reflexão sobre como superar essa realidade por meio da educação e como cada um de nós, como avós, pais, professores, gestores, cidadãos que assumem esse papel de não sermos racistas, podemos trabalhar em prol de uma sociedade antirracista. Paulo Freire, nessa linha, reafirma nossa responsabilidade social na formação de uma sociedade mais justa e equânime: “Desrespeitando os fracos, enganando os incautos, ofendendo a vida, explorando os outros, discriminando o índio, o negro, a mulher, não estarei ajudando meus filhos a ser sérios, justos e amorosos da vida e dos outros”.
Somos todos constitucionalmente responsáveis por garantir que crianças, adolescentes e adultos tenham os mesmos direitos fundamentais garantidos, independente de cor, gênero, religião ou comportamento. Hannah Arendt, em um de seus escritos, apresenta o conceito de “banalidade do mal”, partindo do pressuposto de que muitas vezes o mal que se perpetua advém da falta de consciência daquele que o pratica, o qual é incapaz de pensar e elaborar um juízo crítico e reflexivo sobre seus atos. Nesse sentido, a educação assume enorme relevância na formação de pessoas que tenham uma consciência crítica sobre a necessidade de reconhecer as diversidades presentes no espaço escolar e na comunidade de que fazem parte como paradigma social inegociável.
Lutas de resistência
É importante ainda compreender que a educação antirracista não é uma proposta recente, mas que advém das lutas de resistência dos povos negros trazidos para cá na diáspora, assim como das lutas dos povos indígenas e quilombolas desde o período colonial. Muitos foram os ganhos em termos de legislação educacional, mas é preciso ir além. São prementes a ampliação de redes de discussão, planejamento, execução de projetos e avaliação. No tocante a estas ações, é preciso que a criança negra aprenda, desde muito cedo, que deve reclamar de atitudes racistas, exigindo a garantia de seus direitos. Da mesma forma, a criança branca precisa aprender sobre o que é, e o quanto é inaceitável, um comportamento racista.
Há que se questionar, portanto, que educação queremos ofertar em nossas escolas e como podemos levar a cabo uma educação que efetivamente promova a formação de valores consistentes de respeito e de empatia entre nós.