Em meio a debates globais sobre meio ambiente, consumo e sustentabilidade, uma teoria que surgiu nos anos 1970 volta a ganhar destaque nos dias atuais: o decrescimento. Nascida de estudos que alertavam para os impactos do crescimento populacional, da produção industrial e do consumo desenfreado sobre os recursos do planeta, a teoria propõe uma reavaliação profunda de como vivemos e nos relacionamos com a natureza.
Apesar do nome provocativo, o decrescimento não defende simplesmente o oposto do crescimento econômico. A proposta, na verdade, é reduzir o uso de recursos naturais e de energia, permitindo que os ecossistemas tenham tempo e condições para se regenerar. Em vez de mais acúmulo e mais consumo, a teoria sugere uma sociedade mais moderada, centrada em uma vida mais simples, equilibrada e sustentável.
Para isso, seriam necessárias transformações estruturais na forma como produzimos, consumimos e organizamos a nossa economia. A ideia é substituir o atual modelo, baseado em crescimento contínuo por novas formas de convivência e governança, que priorizem o bem-estar coletivo, a justiça social e o respeito aos limites ecológicos do planeta.
Práticas conscientes
Na prática, isso se traduz em diversas iniciativas que já vêm acontecendo ao redor do mundo: regras mais conscientes de produção e consumo, reaproveitamento de materiais, conserto de bens, agricultura urbana, hortas comunitárias, fomento à economia solidária, acesso gratuito à educação, saúde e internet, e até mesmo a criação de oficinas públicas de costura e mecânica. Também fazem parte da proposta medidas como a implementação de uma renda básica universal, a taxação sobre grandes fortunas e limites de consumo per capita.
No centro da discussão está a crise energética. Embora os avanços tecnológicos tenham possibilitado alternativas mais limpas e renováveis, como a energia solar e eólica, elas ainda não são suficientes para suprir a demanda global crescente. Segundo dados da organização Our World in Data, em 2023, menos de 13% da energia consumida no planeta veio de fontes renováveis — proporção que não cobriria sequer o nível de consumo energético global da segunda metade da década de 1940.
Além disso, a própria produção desses equipamentos sustentáveis — como painéis solares e turbinas eólicas — exige grandes quantidades de energia, muitas vezes oriunda de fontes fósseis. O paradoxo é claro: a busca por um futuro limpo ainda está presa ao modelo energético poluente do presente.
Hoje, em 2025, a dependência mundial dos combustíveis fósseis permanece praticamente intacta. Com exceção de momentos pontuais, como a crise financeira de 2009 e a pandemia de COVID-19 em 2020, a demanda por energia continua aumentando a cada ano — impulsionada, sobretudo, pelos países e indivíduos mais ricos, que concentram os maiores níveis de consumo e poluição.