O gesto que virou patrimônio

Brasília celebra 65 anos de história e 28 de uma cultura que salva vidas e transformou a travessia em símbolo de cidadania

Giza Soares
Por Giza Soares 3 Min Leitura
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Imagem: Joel Rodrigues/Agencia Brasília
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Em meio às curvas de Niemeyer e à simetria sonhada por Lúcio Costa, Brasília completa 65 anos no dia 21 de abril com uma marca que vai além da arquitetura: celebra também, neste mês, os 28 anos da campanha de respeito ao pedestre na faixa. Mais que concreto e monumentos, a capital ergueu uma cultura de cidadania, onde o simples ato de estender o braço para atravessar a rua virou exemplo para o Brasil.

Tudo começou em 1997, com a campanha educativa “Paz no Trânsito”, idealizada pelo Detran-DF. O que parecia utopia se tornou hábito. Em poucos anos, os brasilienses aprenderam que o carro para — e o pedestre passa. Resultado: queda de 69% nas mortes por atropelamento. Em um país onde atravessar a rua ainda é um risco diário, Brasília se destacou.

“Respeitar o pedestre na faixa é muito mais que um comportamento cidadão. É uma atitude de respeito à vida. E disso o brasiliense entende muito bem! Por isso, esse hábito tem se tornado cada vez mais motivo de orgulho para Brasília e para todos que aqui vivem, sendo reconhecido como patrimônio cultural imaterial do DF”, afirma o diretor-geral do Detran-DF, Marcu Bellini.

Caminho de educação e cidadania

A consciência coletiva foi construída com campanhas, fiscalização e empatia. Nas escolas, as crianças aprendem desde cedo a fazer o “sinal de vida”. Nos cruzamentos, motoristas desaceleram diante de quem quer viver. O trânsito, tão marcado pela pressa em outras regiões, aqui abriga pausas que salvam.

“Ver um motorista parar ao ver uma criança estendendo o braço é emocionante. A faixa virou uma aliada da vida e da educação”, diz João Ferreira, morador da Asa Sul há quatro décadas.

Para a professora Eliane Morais, da rede pública, o impacto vai além da sinalização: “A faixa de pedestres educou uma geração inteira. Nossos alunos aprendem que respeito salva vidas. Isso mudou a realidade e, sem dúvida, vai transformar o futuro de Brasília.”

O outro lado

Mas o desafio continua. Enquanto a capital avança, outras cidades tropeçam. No mesmo mês em que Brasília celebra sua campanha, duas jovens perderam a vida ao atravessarem uma faixa na Grande São Paulo. O contraste revela que o respeito ao pedestre ainda não é regra — mas pode ser.

Neste aniversário, Brasília reafirma seu compromisso de continuar sendo vitrine do que dá certo. E se há um presente que a cidade oferece ao Brasil, ele vem em forma de exemplo. Porque educação no trânsito também é patrimônio. E respeito à vida, uma herança que precisa ser protegida — passo a passo, faixa por faixa. Marco zero da campanha:

A primeira ação de conscientização foi na faixa entre as quadras 307 e 308 Sul, em 1997.

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