Embaixada dos EUA registra deputada Erika Hilton com gênero masculino

Em missão oficial, deputada federal tem identidade de gênero negada por embaixada dos EUA. Ato reacende debate sobre soberania, direitos humanos e discriminação institucional

Redação
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Deputada federal Erika Hilton teve seu gênero registrado como masculino em visto diplomático emitido pela embaixada dos EUA, apesar de apresentar documentos oficiais que atestam sua identidade femininaImagem: Lula Marques/Agência Brasil

Em um episódio que uniu política internacional e direitos humanos, a deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) viu sua identidade de gênero ser negada pela embaixada dos Estados Unidos no Brasil durante o processo de emissão de um visto diplomático. A parlamentar, que participaria da Brazil Conference at Harvard & MIT, acusa o governo americano de praticar transfobia de Estado e afirma que o caso representa não apenas uma ofensa pessoal, mas uma afronta diplomática ao Brasil.

Autorizada pela Câmara dos Deputados para representar o país em um painel sobre diversidade e democracia, Erika teve sua viagem frustrada ao descobrir que a embaixada a registrou como do sexo masculino. Isso apesar da apresentação de documentos oficiais brasileiros — como passaporte e certidão de nascimento retificada — que confirmam sua identidade de gênero como feminina.

É absurdo que o ódio que Donald Trump nutre e estimula contra as pessoas trans tenha esbarrado em uma parlamentar brasileira indo fazer uma missão oficial em nome da Câmara dos Deputados, declarou a deputada.

O caso ganhou contornos ainda mais graves com a revelação de que, em 2023, sob outra administração, a própria embaixada havia concedido visto à parlamentar respeitando seu gênero feminino. A negativa atual surge após o decreto assinado em janeiro de 2025 pelo presidente Donald Trump. A Ordem Executiva 14168 determina o reconhecimento exclusivo dos sexos masculino e feminino, considerados fixos desde o nascimento.

Para Erika, essa política representa uma ofensiva ideológica que não só ameaça a dignidade das pessoas trans nos Estados Unidos, como interfere diretamente na soberania de outros países. “Quando a transfobia praticada nos Estados Unidos invade outro país, ela exige também uma resposta diplomática do Itamaraty”, defendeu.

A parlamentar formalizou um pedido de reunião com o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, e articula uma ação jurídica internacional contra o governo norte-americano. Ela considera que a medida desrespeita tratados internacionais dos quais os EUA são signatários, e que garantem o reconhecimento de documentos oficiais emitidos por outros Estados soberanos.

Declaração da embaixada

Em nota, a embaixada americana reafirmou que os registros de visto são confidenciais e reiterou sua política de reconhecer apenas os sexos masculino e feminino. O comunicado também deixou claro que os critérios seguem a legislação vigente dos Estados Unidos, ignorando a documentação brasileira de Hilton.

Para além do incidente diplomático, o episódio evidencia uma crescente tensão entre políticas conservadoras em países como os EUA e o avanço dos direitos LGBTQIA+ em outras nações. Ao recusar a viagem, Erika Hilton protestou não apenas pela ofensa individual, mas pela tentativa de silenciar representações legítimas de diversidade em espaços globais.

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