Segurança Pública, OSCAR e Ditaduras: o que dizem os números?

Cercado por mitos, estatísticas e o impacto de regimes autoritários, o Brasil segue refém de soluções ineficazes contra a violência

Flavio Werneck
Por Flavio Werneck  - Segurança Pública 3 Min Leitura
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Ditaduras mascaram dados, mas a violência persisteImagem: Freepik
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O carnaval deste ano trouxe mais do que celebração. A premiação do filme “Ainda Estou Aqui”, que aborda a tortura e morte de um deputado federal durante a ditadura militar no Brasil, reacendeu debates sobre segurança pública e regimes autocráticos. Mas o que os números realmente mostram?

Regimes autoritários costumam vender a ideia de que são sinônimo de ordem e segurança. Na prática, a realidade é outra: tortura, prisões arbitrárias e execuções sem julgamento mascaram estatísticas e impedem uma análise confiável sobre criminalidade. No Brasil, entre 1964 e 1985, os homicídios cresceram de 10 para 15 por 100 mil habitantes, enquanto a ditadura deixava um legado de desigualdade social e hiperinflação.

A falácia da eficiência na repressão

A teoria econômica do crime, desenvolvida por Gary Becker, defende que um Estado só consegue reduzir a criminalidade quando impõe penas efetivas e previsíveis. Na ditadura, a coerção não visava à justiça, mas sim à eliminação da dissidência. Sem transparência, não há como afirmar que a violência diminuiu – apenas se escondeu.

Com a redemocratização, os homicídios seguiram em alta: 22 por 100 mil habitantes no governo Sarney, 28 nos anos seguintes. Os governos Lula e Dilma conseguiram estabilizar esse índice, impulsionados por políticas de distribuição de renda e controle de armas. O afrouxamento do controle de armamentos nos anos recentes acendeu alertas sobre um possível aumento da violência.

Exemplos externos

Dois modelos autoritários têm sido usados como referência: Nayib Bukele, em El Salvador, e Nicolás Maduro, na Venezuela. Ambos reduziram homicídios drasticamente – mas a que custo? Prisões em massa, julgamento em bloco e tortura são realidades nesses países. Os dados são confiáveis? Vale a pena trocar direitos civis por estatísticas duvidosas?

A solução para a violência não está em regimes repressivos, mas em políticas públicas eficazes. Um projeto de 2013, apoiado por 90% das forças de segurança, propunha melhorias estruturais no sistema de investigação e combate à criminalidade, mas nunca foi levado adiante.

Sem investimento em justiça, combate à impunidade e inclusão social, o Brasil continuará prisioneiro de soluções autoritárias que não resolvem o problema – apenas o camufla

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Posted by Flavio Werneck Segurança Pública
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Advogado, servidor público, mestre em criminologia e pós-graduado pela Escola do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios.
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