Eu li um post no Instagram que me chamou especial atenção e, por isso, trago aqui como reflexão. Muitas vezes, quando uma criança neurodivergente pratica algo que é considerado um problema, essa ação assume uma repercussão muito maior do que deveria. Diferentemente do que ocorre quando o mesmo ato é praticado por crianças típicas, pequenos conflitos ou indisciplinas são tomados numa gravidade desproporcional, os pais são convocados e se instaura um clima de terror.
O maior problema quando a escola assume tal postura está no fato de que as crianças percebem isso. As neurotípicas passam logo a legitimar esse comportamento e assumir uma postura persecutória e de vigilância sobre as crianças neurodivergentes que, por seu turno, percebem que são tratadas de maneira distinta e, portanto, sentem-se injustiçadas, o que aguça comportamentos inadequados ou mesmo provoca o isolamento social em resposta ao que julgam ser um tratamento inadequado. Nos dois casos, há evidentes prejuízos para o grupo como um todo.
Bullying x processo educativo
Crianças e adolescentes neurodivergentes são mais propícios a sofrerem bullying, especialmente quando o grupo de alunos percebem que a escola não lhes dá voz, espaço ou credibilidade. Da mesma forma, esse grupo neurodivergente tende a praticar o bullying como forma de se defender em um espaço que lhe parece hostil. Esses comportamentos poderiam ser evitados se os adultos (gestores, professores e demais funcionários) da escola agissem de maneira adequada ao solucionar os problemas que surgirem. Mais uma vez aqui, salientamos a necessidade de formação continuada dos profissionais da educação.
Essa constatação, no entanto, não traz o peso de se responsabilizar o professor por todo esse processo educativo. Sabemos da complexidade desse fazer pedagógico em um contexto de tanta diversidade. Lembramos aqui de Vygotski que apresentava como pressupostos para a aprendizagem a identificação do conhecimento a ser aprendido (o que aprender); a escolha de estratégias para processar esse conhecimento (como aprender) e o envolvimento com o processo de aprendizagem (o que se quer aprender). Precisamos iniciar essa formação por nós, pais e professores, de maneira a podermos compreender como se aprende, inclusive para a convivência social pacífica e solidária.
A formação integral da pessoa na escola pressupõe que estejamos abertos a enxergar as diferenças que cada um e cada uma traz consigo. Diferenças são peculiaridades, especificidades e não devem ser vistas como um problema a priori. Dessa maneira, precisamos compreender que a educação para a inclusão deve promover um trabalho conjunto entre família e escola com a participação efetiva daqueles que mais conhecem as crianças e que podem trazer contribuições muito positivas para todo o processo, tanto ao indicar qual a melhor forma de se lidar com a criança, como reverberando em casa o trabalho feito na escola.