Fuga no Presídio Federal – ineditismo versus falha humana

O que temos, para além do ineditismo e da quase obviedade de falha humana, atrelada à possibilidade de facilitação da fuga?

Flavio Werneck
Por Flavio Werneck  - Segurança Pública 4 Min Leitura
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Imagem: Reprodução /TV
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Nesse pós-carnaval, fomos surpreendidos com a primeira fuga, da história, de um presídio federal no Brasil. O episódio “inédito” de fuga ocorreu na quarta-feira de Cinzas (14/2). Os presos em mais de 150 anos de condenação criminal, são ligados a uma das maiores organizações criminosas do país. E são classificados pela organização criminosa em sua estrutura, como “matadores”.

Eles abriram um buraco no teto da cela na qual dormiam e aproveitaram o banho de sol dos presos para fugir. Importante lembrar que no presídio federal as celas são individualizadas. Ambos os foragidos, antes de sua transferência para o presídio federal, cumpriam pena no complexo penitenciário de Rio Branco/AC e organizaram uma rebelião naquele presídio que acarretou a morte de 5 detentos.

Entenda o processo de fuga

Mas como foi o processo de fuga de um presídio de segurança máxima? Após abrirem o buraco na cela, os dois presos aproveitaram uma obra que ocorria no presídio e passaram do gradil de proteção. Ainda não há informações e investigações conclusivas se houve omissão ou colaboração humana para a fuga. O fato é que sua fuga só foi detectada após a contagem do café da manhã, por volta das 5h30.
Outro fato que merece atenção é que a comunicação à Polícia Militar foi feita somente às 8h.

Monitoramento

Vale lembrar que os presídios federais contam com monitoramento em tempo real, por imagens captadas nas 5 unidades. Também contam com sistema de barreiras para acesso aos presos. São 6 barreiras no total e advogados e visitantes são obrigados a passar por todas as barreiras. A pergunta que a investigação tem que responder é: como eles passaram por essas barreiras sem ser detectados?

Pontos que exigem atenção

Vamos colocar alguns pontos que necessitam de extrema atenção. O atual ministro da Justiça tem que investigar e solucionar esse caso, mas ele pode se repetir, em não havendo atenção para os seguintes pontos:

Em levantamento prévio observa-se que o plantão das Unidades não conseguem chegar a 10 policiais, quando o efetivo ideal seria de 40 policiais penais federais; A direção do órgão sempre é ocupada por pessoas que não compõem os quadros efetivos da policia penal, muita vezes sem qualquer conhecimento específico acerca das atribuições da função; a carreira policial penal, apesar de recentemente reestruturada financeiramente, não foi contemplada com indenização de plantão extra ou de sobreaviso, o que a deixa menos atrativa que as demais carreiras policiais, dificultando a fixação de efeito.

Concomitante a esses problemas, o Ministério da Justiça terá que enfrentar o desafio da modernização de suas estruturas físicas e tecnológicas. O exemplo mais claro está nessa fuga. Existe o pedido de substituição das cercas por muralha de concreto. Mas, até o presente momento, apenas na unidade de Brasília foi feita a referida substituição. Lembrando sempre que os fatores humano e tecnológico, têm que andar juntos, para que a possibilidade desse tipo de fuga seja cada vez menor.

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Posted by Flavio Werneck Segurança Pública
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Advogado, servidor público, mestre em criminologia e pós-graduado pela Escola do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios.
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