No cenário econômico brasileiro, a desoneração da folha salarial, um mecanismo que busca estimular a geração de empregos ao aliviar encargos trabalhistas para determinados setores, encontra-se no centro de debates e decisões políticas. Recentemente, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, tomou uma medida que reverberou nos corredores do Congresso Nacional: o veto integral ao projeto de lei (PL 334/2023) que prorrogaria, por mais quatro anos, a desoneração da folha para 17 grandes setores da economia.
Desde sua implementação em 2012, a desoneração da folha vem sendo renovada para atender à demanda de setores que historicamente geram empregos significativos no país. Entretanto, a decisão do presidente Lula de vetar o projeto, recentemente aprovado no Senado, desencadeou reações entre senadores, alguns deles já cogitando a rápida derrubada do veto.
O projeto em questão, o PL 334/2023, propunha a prorrogação da desoneração da folha ao permitir que empresas substituíssem o recolhimento de 20% de imposto sobre a folha de salários por alíquotas de 1% a 4,5% sobre a receita bruta. No entanto, o veto presidencial baseia-se na justificativa de inconstitucionalidade, argumentando a ausência de demonstrativo de impacto orçamentário-financeiro e medidas de compensação.
Neste contexto, setores cruciais da economia, responsáveis por nove milhões de empregos, como confecção, calçados, construção civil e tecnologia da informação, encontram-se no centro do debate. A possível derrubada do veto agora está nas mãos do Congresso, onde a discussão sobre os rumos da desoneração da folha e seu impacto na geração de empregos ganha destaque.
“A desoneração da folha de pagamento, ela tem uma razão de ser, ela não é pura e simplesmente um benefício ao acaso. O país precisa gerar emprego, as empresas que geram muito emprego precisam sobreviver. O impacto previdenciário e de custo dessa oneração na folha de pagamento, uma vez reduzido, gera empregabilidade. Ao menos evita o desemprego”, afirmou o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, em defesa da desoneração.
Senadores, como Efraim Filho, autor da matéria, e Angelo Coronel, relator no Senado, expressaram descontentamento com a decisão do governo, comprometendo-se a trabalhar pela derrubada do veto ainda este ano. Coronel salientou que 17 setores cruciais para a economia, responsáveis por nove milhões de empregos, ficaram prejudicados com o veto.
Os setores impactados pela proposta incluem confecção e vestuário, calçados, construção civil, call center, comunicação, construção e obras de infraestrutura, couro, fabricação de veículos e carroçarias, máquinas e equipamentos, proteína animal, têxtil, tecnologia da informação (TI), tecnologia da informação e comunicação (TIC), projeto de circuitos integrados, transporte metroferroviário de passageiros, transporte rodoviário coletivo e transporte rodoviário de cargas.
Críticas de parlamentares, como Carlos Vina, Ciro Nogueira e Flávio Bolsonaro, enfatizam o impacto negativo do veto na geração de empregos e no crescimento econômico, enquanto destacam a necessidade de incentivar a abertura de novos postos de trabalho.
O Congresso agora se encontra diante da possibilidade de derrubar o veto, uma vez que o projeto obteve amplo apoio tanto na Câmara quanto no Senado. A decisão do veto, considerada política, levanta discussões sobre a busca de alternativas para garantir a sustentabilidade econômica dos setores beneficiados pela desoneração da folha de pagamento. A coletiva convocada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, destaca a intenção de apresentar ao Congresso propostas consideradas mais razoáveis do ponto de vista constitucional e econômico.
Veja a lista completa dos setores afetados
- Confecção e vestuário
- Calçados
- Construção civil
- Call center
- Comunicação
- Empresas de construção e obras de infraestrutura
- Couro
- Fabricação de veículos e carroçarias
- Máquinas e equipamentos
- Proteína animal
- Têxtil
- TI (tecnologia da informação)
- TIC (tecnologia de comunicação)
- Projeto de circuitos integrados
- Transporte metroferroviário de passageiros
- Transporte rodoviário coletivo
- Transporte rodoviário de cargas
Os efeitos do veto
O veto integral ao projeto de desoneração da folha de pagamento proposto pelo presidente Lula pode ter implicações significativas na competitividade e empregabilidade no Brasil. Vamos considerar o setor de confecção e vestuário, um dos 17 setores afetados.
Competitividade internacional:
Com o veto, as empresas do setor continuam sujeitas à alta carga tributária sobre a folha de pagamento, o que pode tornar os produtos brasileiros menos competitivos no mercado internacional.
A manutenção de alíquotas elevadas pode dificultar a exportação de produtos brasileiros, prejudicando a balança comercial e reduzindo a participação do país no comércio global.
Impacto na geração de empregos:
A desoneração da folha tem sido uma ferramenta para estimular a geração de empregos nos setores contemplados. Com o veto, a carga tributária permanece alta, desestimulando as empresas a contratarem novos funcionários.
Setores intensivos em mão de obra, como confecção e vestuário, podem enfrentar dificuldades na manutenção e criação de postos de trabalho, impactando diretamente os trabalhadores e suas famílias.
Sobrevivência de empresas:
Empresas do setor de confecção e vestuário, que historicamente dependem da desoneração para reduzir custos, podem enfrentar desafios financeiros mais acentuados.
A manutenção da alíquota de 20% sobre a folha de pagamento pode pressionar as margens de lucro, levando algumas empresas à beira da insolvência e comprometendo a saúde financeira do setor como um todo.
Estagnação econômica:
A não prorrogação da desoneração pode contribuir para a estagnação econômica, pois setores que poderiam impulsionar a criação de empregos e o crescimento econômico podem enfrentar dificuldades para se expandir.
A falta de incentivos fiscais pode desencorajar investimentos e inovações, impactando negativamente o dinamismo econômico do país.
Em suma, o veto ao projeto de desoneração da folha pode comprometer a competitividade das empresas brasileiras, dificultar a geração de empregos e contribuir para uma desaceleração econômica em setores estratégicos.