ANA LÍDIA: 50 anos do crime que chocou Brasília; E se fosse hoje, seria resolvido?

Tivemos uma grande evolução de conhecimento e tecnológica. Mas a realidade é que, depois de 50 anos, continuamos mantendo essa mesma estrutura burocrática de investigação no Brasil

Flavio Werneck
Por Flavio Werneck  - Segurança Pública 4 Min Leitura
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O corpo da menina foi encontrado menos de um dia após seu desaparecimentoImagens: Reprodução
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No último dia 11 de setembro, o crime bárbaro da linda menina de 7 anos, que foi torturada, estuprada e assassinada por asfixia, completou, longos, 50 anos. Nossa capital ainda tinha ares de cidade do interior. Longínquos 1973. A garota, filha de servidores públicos, desapareceu e foi encontrada morta, nas imediações da Universidade de Brasília (UNB), 22 horas após o início das buscas.

As investigações indicam que ela foi deixada pela mãe dentro da escola (Carmen Salles – 604 Norte), mas não chegou a entrar na sala. Foi abordada por um homem branco, com cabelos compridos e deixou a escola com esse suspeito.

O seu sequestro foi descoberto cerca de duas horas depois de a mãe deixá-la na escola. A empregada, que buscava a criança, foi comunicada pelo colégio que ela não assistiu à aula de reforço. A perícia, naquela época, não foi conclusiva e não apresentou qualquer evidência que indicasse os culpados.

A capitulação inicial do crime se deu como sequestro, porque o seu pai recebeu carta e uma solicitação de valor em dinheiro pelo resgate da filha. Inclusive com relato de que o delegado do caso recebeu ligação com solicitação e valores em dinheiro e chegou a ouvir a voz da criança chorando.

Seu corpo foi encontrado menos de um dia após seu desaparecimento. Sem roupas, com extrema violência. Nas imediações da UNB ainda foram encontradas marcas de sola de sapato (em princípio um coturno), preservativos e resto de sêmen em um papel.

As investigações levaram a suposto envolvimento de um dos irmãos, de um traficante de drogas e de políticos influentes à época. Os dois primeiros chegaram a ser presos, mas foram absolvidos. Reaberto em 1982, o inquérito não obteve novas provas e o crime acabou prescrito em 1993.

Crime bárbaro, absurdo, vil e com indícios de envolvimento de grandes figurões políticos da época. Foi ineficiência? Falta de dedicação? Influências políticas? O que aconteceu para que um crime de tamanha repercussão e hediondez não fosse solucionado?

Perguntas que ficarão sem resposta infelizmente. E que geram aquela sensação ruim de que a polícia e a justiça não funcionam.

E hoje, o que mudou?

Tivemos uma grande evolução de conhecimento e tecnológica. A polícia e a justiça no Distrito Federal funcionam de maneira mais célere e estão entre as mais eficientes do Brasil – isso se não forem as mais eficientes.

Mesmo diante dessa competência no nosso quadradinho, a realidade é que, depois de 50 anos, continuamos mantendo essa mesma estrutura burocrática de investigação no Brasil. Nada, ou quase nada mudou. Nossos profissionais de segurança pública e justiça se esforçam diariamente para vencer as ineficiências, as burocracias e as inconsequentes exigências formais para chegar a um resultado positivo.

Mas isso não retrata a realidade do nosso Brasil. Que continua diariamente a ter muitos casos de homicídio, sem qualquer resolução e um dos componentes que influenciam diretamente e criam dificuldades é o nosso sistema de investigação: velho, anacrônico, disfuncional, parado no tempo do Brasil império, ou seja, mofado, embolorado, carcomido. Já era defasado para resolver o caso na época da Ana Lídia, e infelizmente continua ultrapassado hoje em pleno 2023.

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Posted by Flavio Werneck Segurança Pública
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Advogado, servidor público, mestre em criminologia e pós-graduado pela Escola do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios.
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