Tempo da travessia

A vida pede evolução, crescimento que só pode ser acolhido quando damos espaço para o novo

Dênis Reis
Por Dênis Reis  - Coach 7 Min Leitura
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“Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos”. (Fernando Pessoa) Na jornada da vida, existe uma armadilha que pode sabotar os nossos processos, que é a tendência a viver no automático, a trilhar os mesmos caminhos, a cristalizar as nossas verdades e certezas e viver de forma robotizada. É a zona de conforto e o apego a viver no conhecido, a fazer sempre as mesmas perguntas e escolher sempre as mesmas respostas.

Nos apegamos às mesmas roupas que já se moldaram ao nosso corpo e que, numa visão perigosa, parecem fazer parte de nós e nos constituir. Mas, na verdade, não passam de acessórios externos que durante muito tempo foram importantes e cumpriram sua missão, mas que chega um tempo que já não servem mais, estão velhas, surradas e precisam ceder lugar para o novo.

Assim, tais roupas são nossas ideias, crenças, maneiras de ver o mundo, nossa forma de relacionamento conosco, com os outros e com a vida, as verdades que elegemos, enfim, tudo aquilo que, no caminhar, foi se fazendo de alguma forma importante.

Evolução

Mas a vida pede evolução, crescimento que só pode ser acolhido quando damos espaço para o novo.

É preciso deixar ir para que o novo venha! É preciso realinhar, oxigenar, ceder espaço, desapegar de tantas coisas que já não fazem mais sentido. É preciso deixar vir o novo, o desconhecido, muitas vezes o desejado e o necessário, que já sabemos serem importantes, mas o apego ao velho nos priva e nos paralisa.

Também nos apegamos aos nossos caminhos, uma maneira de fazer e se movimentar que também se cristaliza e impede o encontro com o novo. Tendemos a percorrer sempre os mesmos caminhos, aqueles conhecidos, marcados, automáticos que nos levam sempre aos mesmos lugares. Quando falo de novos caminhos, estou falando de duas realidades importantíssimas. A primeira é ideia de caminho em duas perspectivas, uma que se refere a caminho como estrada mesmo, que corresponde ao percurso que escolhemos como melhor para chegar em algum lugar. E a segunda é a ideia de caminho como modelo mental que nos conduz às respostas que buscamos para as resoluções do dia a dia.

Mudar de rota

Caminho como percurso traz a relação com a perspectiva de ser aberto o suficiente para perceber a diversidade de caminhos, a se abrir para as possibilidades, para mudar de rota, para desbravar e não ficar limitado a aquele caminho já explorado e conhecido.

Pense no caminho que você escolhe para ir ao trabalho, por exemplo. Aquele que você repete todos os dias e já o tem como automático e certo, o que geralmente justificamos com argumentos racionais de tempo e distância.

Diante de uma questão, problema, desafio, escolha e tudo mais, seguimos, sem pensar, para o lugar conhecido.

É claro que tempo e distância são importantes, mas se fechar a eles como se fossem sempre e indiscutivelmente os melhores argumentos para a sua decisão é uma armadilha. Aqui, é preciso pensar também no contexto, no que se ganha e se perde, na aventura, na mudança de perspectiva e, é claro, no que realmente é importante para além das seguranças, ou falsas seguranças racionais.

A ideia de caminho como modelo mental me faz pensar na armadilha da mentalidade fixa, que se move rápida e inevitavelmente para o caminho já conhecido como resposta imediata para as questões da vida. Diante de uma questão, problema, desafio, escolha e tudo mais, seguimos, sem pensar, para o lugar conhecido.

A questão é que as perguntas mudam, os desafios se renovam, o contexto não é mais o mesmo, eu e você já não somos mais os mesmos, mas nossa mentalidade continua fixa naquela resposta imediata e seguimos o mesmo caminho que nos levará sempre aos mesmos lugares, aos velhos lugares e precisamos nos dar conta disso.

Se a vida muda, se nós mudamos, se o mundo muda, se as realidades e contextos mudam, nossos caminhos também precisam mudar. Precisamos mudar a roupa e buscar novos caminhos, caminhos que nos levam a águas mais profundas, a conexões mais preciosas, a respostas alinhadas com o novo e sobretudo com nosso coração.

A jornada

A vida é uma jornada e toda jornada sugere momentos de travessia! Sair da margem e ser capaz de mergulhos profundos que nos levam para outros lugares, lugares para serem habitados com a certeza de acolher a intensidade da vida. Da margem, só podemos vislumbrar o que tem do outro lado. Para sentir e apreciar as belezas que se escondem no horizonte, precisamos experienciar, entrar na água, mergulhar, conhecer e viver o novo. A intensidade dessa viagem vai depender da nossa entrega e coragem de mergulhar.

Preciso repetir: “Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do nosso corpo e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos”.

Preciso repetir, porque esse é um mantra que tenho levado para minha vida e sei que pode fazer a diferença na sua também. De tempos em tempos, precisamos fazer a travessia para efetivar a transformação em nós e alcançar o próximo nível, a próxima jornada.

Pare um pouco agora e pense. O que está estagnado na sua vida hoje? O que está te impedindo de dar o próximo passo? O que é preciso deixar ir para que o novo venha? Que metamorfose a sua alma deseja, clama?

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Posted by Dênis Reis Coach
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Especialista em Desenvolvimento Humano
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