Qual é o limite da falta de dignidade de uma mulher? Há alguns dias muitos brasileiros passaram a conhecer a expressão, Direito Menstrual, até então pouco falado, mas um direito pelo qual as mulheres têm lutado há muito tempo. O veto a trechos da PL 61/2021 projeto de lei que estabelece o direito a distribuição de absorventes para mulheres em situação de vulnerabilidade, chamou a atenção para um assunto importante e um problema conhecido por mulheres do mundo todo.
A pobreza menstrual, é caracterizada pelo não acesso a itens de higiene menstrual, conhecimento e infraestrutura adequada para que pessoas que menstruam possam ter uma menstruação segura. Embora a ONU considere a higiene menstrual um direito fundamental das mulheres e uma questão de saúde pública, a pobreza menstrual atinge milhões de mulheres no mundo.
No Brasil a pobreza menstrual é realidade na vida de 28% das pessoas de baixa renda, isso inclui mulheres, meninas, homens trans e demais pessoas com útero. O não acesso a itens básicos para o gerenciamento da higiene menstrual tem levado mulheres a se utilizar de meios não recomendados para conter o fluxo menstrual, jornal, pedaços de pano, folhas de árvores e até miolo de pão segundo relatos de presidiárias, são usados de forma improvisada para substituir o absorvente.
Condições como estas retratam a falta de dignidade, o desrespeito aos direitos das mulheres e também a desigualdade de gênero ainda tão presente na sociedade moderna. Tudo isso, tem um impacto ainda maior na vida das estudantes adolescentes, que tem deixando de ir à escola neste período por não se sentirem seguras com os métodos improvisados de absorventes, que, são obrigadas a utilizar.
No Brasil, 4 entre 10 meninas matam aula no período menstrual. Essas jovens dependem da família e está precisa escolher entre comprar comida ou absorventes, questão que se tornou mais delicada na pandemia onde muitos brasileiros perderam suas fontes de renda. Desta forma não podemos deixar de considerar as consequências não só para saúde física da mulher, que está sujeita a alergias, cistites, irritação da pele, e infecções que podem levar à morte.
Mas também afeta a sua saúde mental, através do desconforto, insegurança e preocupação que levam a uma baixa qualidade de vida. Essa mulher já vive as consequências da pobreza extrema e da desigualdade, sofrendo com estresse, tristeza, ansiedade e depressão. Como resultado da pobreza menstrual, elas sofrem também com a falta de dignidade e isso afeta a sua autoconfiança, a sua autoestima e a visão a respeito de si mesmas, podendo levá-las a se sentir inferior por não ter acesso às condições mínimas nem mesmo de higiene.
Questões como essas trazem consequências para o desenvolvimento de seu potencial acadêmico e profissional, já que são obrigadas a faltar aula, deixar de ir ao trabalho e se afastar das relações sociais neste período. Tudo isso traz prejuízos na forma de inseguranças, principalmente para meninas em fase de desenvolvimento físico e psicológico.
A adolescente que mata vários dias de aula todos os meses, terá seu rendimento comprometido e isso vai se manifestar no momento que estiver entrando no mercado de trabalho, onde terá que concorrer com os homens. Sem falar que a educação para essas meninas são a única porta para a melhoria de vida e a quebra do ciclo de pobreza em que vivem.