92 anos depois: mulheres conquistam votos, mas ainda lutam por poder

Apesar de serem a maioria do eleitorado, mulheres ainda enfrentam barreiras para chegar ao poder. Vice-governadora Celina Leão analisa avanços e desafios

Giza Soares
Por Giza Soares 8 Min Leitura
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92 anos depois, as mulheres conquistam votos, mas ainda enfrentam desafios para ocupar espaços de poderImagem: Agência Brasília
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No dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher, celebramos não apenas conquistas, mas também a resistência feminina ao longo da história. Este ano, completa 92 anos desde que as mulheres brasileiras conquistaram o direito ao voto, um marco que abriu caminho para sua participação na política. No entanto, décadas depois, a presença feminina em espaços de poder ainda está longe de refletir sua representatividade na sociedade. Para falar sobre esse cenário e os desafios da mulher na política, entrevistamos Celina Leão, vice-governadora do Distrito Federal, uma das principais lideranças femininas do país.

Transporte Gratuito

Jornal Capital Federal: Desde o dia 1º de março, o Distrito Federal passou a oferecer transporte público gratuito aos domingos e feriados. Quais são as expectativas do governo em relação ao impacto dessa medida na mobilidade urbana e na economia local?
Celina Leão: Essa medida assegura que todos possam se deslocar pelo DF, garantindo um direito fundamental muitas vezes inviabilizado pela falta de recursos para a passagem. Ao oferecer transporte gratuito nos dias de folga, ampliamos o acesso ao lazer e às inúmeras possibilidades que a cidade oferece. Além do impacto social, a iniciativa impulsiona a economia: mais pessoas circulando significam maior consumo e, consequentemente, aumento na arrecadação de impostos. Os benefícios vão muito além da gratuidade e refletem diretamente na qualidade de vida da população e no desenvolvimento econômico do DF.

Congelamento das Tarifas

JCF: As tarifas de ônibus e metrô no DF permanecerão congeladas até o final de 2026. Como o governo planeja manter a sustentabilidade financeira do sistema de transporte público diante dessa decisão?
Celina: O Governo do Distrito Federal (GDF) já subsidia a maior parte do custo das passagens por meio da tarifa técnica, garantindo que o valor não pese integralmente no bolso do cidadão. Esse modelo divide o custo entre usuários e poder público, contemplando, ainda, gratuidades para idosos e integrações tarifárias sem custo adicional. Enquanto diversas capitais elevaram suas tarifas, no DF conseguimos evitar essa sobrecarga financeira à população por meio de uma gestão eficiente, planejamento rigoroso e comprometimento com a acessibilidade do transporte público.

Segurança Pública

JCF: O DF registrou recentemente o menor índice de roubos de veículos dos últimos 25 anos. Quais estratégias específicas foram adotadas para alcançar esse resultado significativo?
Celina: Esse resultado é fruto de uma estratégia robusta que combina inteligência policial, ampliação do efetivo e policiamento ostensivo. Em 2024, realizamos a maior convocação da história da Polícia Militar do DF (PMDF), com 1.259 novos integrantes, totalizando 3.900 nomeações desde 2019. Além disso, investimos fortemente em tecnologia para coibir e investigar crimes, resultando em quedas expressivas nos índices de criminalidade. O DF registrou o menor número de homicídios dos últimos 48 anos e uma redução de 82% nos latrocínios na última década. Seguiremos firmes na missão de tornar o DF cada vez mais seguro e justo para todos.

Infraestrutura e Mobilidade

JCF: Regiões como Vicente Pires e Sol Nascente enfrentam desafios de infraestrutura. Quais são as principais iniciativas do governo para acelerar obras e melhorar a mobilidade nessas áreas?
Celina: Infraestrutura e mobilidade são prioridades do governo. Em Vicente Pires, estamos investindo R$ 59 milhões para garantir acessibilidade, com a construção de 20 mil m² de calçadas dentro do projeto de drenagem e pavimentação. No Sol Nascente/Pôr do Sol, a transformação é ainda maior: a região deixou de ser a maior favela do país para se tornar uma cidade estruturada e digna. Desde 2019, já investimos mais de R$ 630 milhões na urbanização, garantindo água potável e esgoto sanitário para 95% da população. Inauguramos a primeira creche da região, uma escola para 900 alunos, uma rodoviária que atende 20 mil pessoas e já autorizamos a construção da sede da administração regional e de um grupamento do Corpo de Bombeiros. O impacto dessas obras é real e reflete nosso compromisso em proporcionar qualidade de vida para todos.

Parceria

JCF: Como a senhora descreve sua parceria com o governador Ibaneis Rocha na condução das políticas públicas do DF?
Celina: Minha parceria com o governador Ibaneis Rocha é pautada na confiança, no compromisso com a população e na busca incessante por melhorias para o DF. Trabalhamos lado a lado para enfrentar desafios e implementar políticas públicas eficazes. Temos um governo de entregas, que se destaca pelo planejamento, pela responsabilidade fiscal e pela transformação concreta da cidade.

JCF: Diante das especulações sobre uma possível candidatura ao Governo do DF em 2026, como a senhora avalia essa possibilidade e quais seriam suas prioridades?
Celina: O momento exige foco na gestão e na consolidação das políticas públicas que estamos implementando. Mais do que discutir eleições, nossa prioridade é fazer do DF um lugar melhor para se viver. Nosso governo não se limita a obras, mas sim a um conjunto de ações que impactam diretamente a vida da população, garantindo segurança, educação e saúde de qualidade. O futuro será definido no tempo certo, com base no trabalho que estamos realizando agora.

Desafios Femininos na Política

JCF: Como uma das principais lideranças femininas do DF, quais desafios a senhora identifica para que mais mulheres ocupem espaços de poder?
Celina: O maior desafio ainda é a resistência estrutural à presença feminina na política. Durante meu mandato como deputada federal e coordenadora da Frente Parlamentar em Defesa dos Direitos da Mulher, aprendi que a única forma de avançarmos é estarmos unidas, independentemente de ideologias ou partidos. Essa luta é apartidária e deve ser travada não apenas por quem ocupa mandatos, mas por toda a sociedade. Precisamos garantir que mulheres tenham espaço, voz e respeito no ambiente político, pois uma sociedade que valoriza suas mulheres é uma sociedade mais justa e equilibrada.

JCF: A senhora acredita que as mulheres estão bem representadas na política atualmente? O que ainda precisa mudar para que mais mulheres ocupem espaços políticos?
Celina: A bancada feminina na Câmara dos Deputados cresceu, mas ainda representa apenas 18% do total, um avanço tímido diante do potencial das mulheres no Brasil. O problema não é apenas a baixa representatividade, mas a dificuldade de acesso e a resistência que enfrentamos. O ambiente político ainda é hostil e excludente. Precisamos continuar abrindo caminhos para que mais mulheres participem ativamente da política.

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