O impacto do racismo na luta das mulheres negras: interseccionalidade em foco

É urgente dar às mulheres negras o lugar que sempre lhes foi negado: o de protagonistas de suas próprias histórias e da construção de um futuro mais justo

Mariana Tripode
Por Mariana Tripode  - Advogada 3 Min Leitura
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Mulheres afrodescendentes enfrentam racismo e machismo, buscando protagonismo e igualdade na sociedadeImagem: Freepik
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As mulheres negras ocupam uma posição única nas estruturas de opressão. Enquanto enfrentam o machismo que limita seus direitos e liberdades, também lidam com o racismo que reforça sua invisibilidade e exclusão social. Esse duplo enfrentamento, descrito pela interseccionalidade, conceito cunhado pela jurista Kimberlé Crenshaw, revela como diferentes sistemas de opressão se sobrepõem e agravam as desigualdades.
No Brasil, um país cuja história é profundamente marcada pela escravidão e pelo racismo estrutural, a interseccionalidade é um ponto central para entender as experiências das mulheres negras. Dados apontam que elas representam a maior parte da população em empregos informais e precários, recebem os menores salários e enfrentam as maiores taxas de desemprego. Além disso, são as principais vítimas de feminicídio e violência doméstica, ao mesmo tempo em que encontram menos apoio em políticas públicas e redes de proteção.

Racismo desumaniza mulheres negras

Essa realidade não é fruto do acaso. O racismo desumaniza as mulheres negras, colocando-as em posições de extrema vulnerabilidade, enquanto o machismo reforça sua exploração em um contexto que as submete a jornadas extenuantes de trabalho e à sobrecarga das tarefas domésticas e do cuidado familiar. Essa sobreposição de opressões também está presente na cultura, onde a imagem da mulher negra é estereotipada e hipersexualizada, dificultando sua afirmação como sujeitos plenos de direitos.
A luta das mulheres negras, contudo, tem resistido e transformado realidades. Movimentos como o feminismo negro têm desafiado as narrativas dominantes, trazendo visibilidade às suas demandas e construindo espaços de protagonismo. Intelectuais como Lélia Gonzalez, Angela Davis e Bell Hooks mostram como o feminismo deve ser pensado além das mulheres brancas de classes médias, incorporando as vozes de quem enfrenta opressões múltiplas.

Perspectiva interseccional

Para que essa luta seja efetiva, é fundamental que a sociedade como um todo adote uma perspectiva interseccional, reconhecendo que as políticas de igualdade de gênero não terão sucesso se não forem também políticas de enfrentamento ao racismo. Isso inclui desde mudanças estruturais, como acesso à educação e ao trabalho digno, até transformações simbólicas, como a valorização da estética e da cultura negra.

Somente ao colocar o racismo e o machismo no centro do debate, será possível avançar em direção a uma sociedade onde as mulheres negras possam viver plenamente, sem carregar o peso das opressões históricas. É urgente dar a elas o lugar que sempre lhes foi negado: o de protagonistas de suas próprias histórias e da construção de um futuro mais justo.

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Posted by Mariana Tripode Advogada
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Advogada formada pela Universidade de Mogi das Cruzes /SP desde 2012. Especialista em Direito da Mulher e Direito de Gênero pela escola da Magistratura do Distrito Federal, pós-graduanda em Direitos das Mulheres e Práticas para uma Advocacia Feminista pela Escola Superior de Direito, pós-graduanda em Ciências Criminais e Interseccionalidades pela Verbo Jurídico. Foi Presidente da Comissão da Mulher da ABA Brasília – Associação Brasileira dos Advogados, idealizadora do primeiro escritório de Advocacia Para Mulheres no Distrito Federal e CEO da Escola Brasileira de Direitos das Mulheres-EBDM.
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