Em meio à campanha do Setembro Amarelo, que visa conscientizar a população sobre a prevenção ao suicídio, é essencial abordarmos temas que frequentemente caminham ao lado de profundo sofrimento psicológico, como os transtornos alimentares e o transtorno de imagem corporal. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), os transtornos alimentares afetam milhões de pessoas em todo o mundo, sendo as mulheres jovens o grupo mais afetado. No entanto, a prevalência desses transtornos tem aumentado também entre homens e pessoas de outras faixas etárias, mostrando que essa questão não se limita apenas a um perfil específico, mas é um problema crescente que demanda maior atenção e conscientização.
Estudos apontam que aproximadamente 9% da população mundial sofre de algum tipo de transtorno alimentar, como anorexia nervosa, bulimia e compulsão alimentar (Qian et al., 2021). No entanto, esse número pode ser subestimado. Muitas pessoas acometidas por esses transtornos não recebem ajuda psiquiátrica ou psicoterapêutica porque consideram o comportamento alimentar e a visão distorcida de seu corpo como normais. O reforço positivo que recebem de familiares, amigos ou até de profissionais mal preparados — que elogiam a perda de peso ou a disciplina alimentar extrema — dificulta ainda mais o reconhecimento do transtorno. Dessa forma, há uma subcontabilização significativa, já que muitos sequer sabem que estão enfrentando um problema sério (Treasure, Duarte & Schmidt, 2020).
Redes sociais
As redes sociais têm desempenhado um papel central na amplificação desses transtornos, propagando imagens editadas, corpos idealizados e rotinas alimentares prejudiciais. Influenciadores, blogueiras e até mesmo alguns profissionais da saúde contribuem para a perpetuação de padrões inatingíveis, alimentando a crença de que só existe um tipo de corpo “ideal”. Para muitas pessoas, essa comparação constante gera um ciclo destrutivo de baixa autoestima, distorção da própria imagem e comportamentos alimentares danosos.
O transtorno de imagem corporal é um dos aspectos mais delicados e graves dessa realidade. De acordo com dados da Associação Brasileira de Transtornos Alimentares (ASTRAL), 70% das pessoas com transtornos alimentares também sofrem de distorção de imagem corporal, o que reforça o vínculo entre esses dois problemas. Além disso, o aumento do uso de filtros e edições de fotos agrava essa distorção, tornando difícil distinguir o que é real e o que é manipulado digitalmente.
É fundamental que nós, como sociedade, abordemos esses problemas com mais acolhimento, compaixão e humanidade. Profissionais da saúde têm a responsabilidade de promover abordagens éticas e baseadas em evidências, que valorizem a saúde física e mental de seus pacientes. A promoção de uma imagem corporal positiva e realista é crucial para mitigar os danos causados por padrões irreais e por dietas restritivas e desumanas.
Durante este Setembro Amarelo, convidamos todos a refletirem sobre a urgência de abandonar a cultura de culpa, restrição e perfeição. Em vez disso, devemos cultivar o respeito e a aceitação pelo próprio corpo e pelos corpos alheios. A saúde mental deve ser tão valorizada quanto a saúde física, e o cuidado com a alimentação precisa ser visto como um ato de amor e respeito por si mesmo, e não como uma punição.