Com a alta dos casos de dengue no país, o medo de contrair a doença faz com que muitas pessoas utilizem métodos que nem sempre são eficazes para evitar as picadas, sem contar as informações diversas que viralizam nas redes sociais.
Mas o que realmente funciona? Quais substâncias atraem ou repelem o Aedes aegypti? Há diferença entre o repelente em creme e spray? E os repelentes caseiros, funcionam? Essas e outras dúvidas foram respondidas pela médica Fernanda Duran, dermatologista que integra a Sociedade Brasileira de Dermatologia e referência técnica da Secretaria de Saúde (SES-DF) na especialidade.
Para desvendar os mitos e verdades dos repelentes, é importante saber que eles agem entupindo os poros das antenas dos mosquitos, impedindo que eles sintam nosso odor e cheguem até a pele. Atualmente, três substâncias são permitidas e reguladas pela Anvisa para o uso nesses produtos de uso tópico (na pele): a icaridina, o IR3535 e o DEET. A diferença entre esses produtos é basicamente o tempo de duração e a recomendação de uso.
A icaridina deriva da pimenta e tem duração de dez horas, então pode ser aplicada uma vez ao dia. Em estudos feitos até pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Botucatu, a substância a 25% apresentou-se como o repelente mais eficiente. O DEET tem uma duração de quatro horas, e o IR3535 tem duração entre duas e quatro horas, dependendo da concentração – além de ser o único repelente autorizado para o uso em crianças entre seis meses e dois anos.
Veja, abaixo, as recomendações para cada idade.
- Menos de 6 meses: não usar repelentes. Algumas alternativas são mosquiteiros, telas e roupas como macacão, que cobrem os pés, e as mãos com luvinhas
- De 6 meses a 2 anos : IR3535, da Merck
- Acima de 2 anos: todos, incluindo a icaridina, DEET e IR3535.
Segundo a Anvisa, as gestantes podem usar as três substâncias (IR3535, icaridina ou DEET), mas a icaridina é a mais indicada nesses casos por ter uma duração maior e a aplicação ser necessária apenas uma vez ao dia, reduzindo a exposição ao odor e diminuindo a chance de enjoos pela gestante.
Mitos e verdades
Embora mais acessíveis, as receitas caseiras de repelente não têm eficácia comprovada por estudos ou recomendações pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Fernanda Duran explica que, mesmo que alguns componentes naturais façam parte de formulações industriais, não há uma padronização da concentração ou duração das receitas, que também podem criar irritabilidade ou alergias.
Já para o uso em ambientes, ela lembra que a duração do odor da citronela, conhecida por repelir os mosquitos, possui uma duração curta. “Você teria que ficar repondo, e a gente não orienta isso em ambientes muito fechados, porque o odor pode ficar forte e levar até à intoxicação”, orienta a médica.
Algumas dúvidas também giram em torno do uso de produtos tópicos, como perfumes: afinal, eles atraem ou repelem os mosquitos? De acordo com a especialista, os poucos estudos que foram feitos em relação a perfumes mostraram que a fragrância afasta os insetos, porque eles confundem e camuflam o odor natural que o corpo humano exala.
Repelente por último
Em relação à ordem dos produtos aplicados na pele, o repelente deve ser sempre o último, utilizado após 15 minutos da aplicação do último produto (depois do protetor solar ou perfume, por exemplo). A repetição da aplicação vai depender da substância, da marca e principalmente da concentração.
Se a icaridina tiver 25% de concentração, a duração é em torno de dez horas. Se tiver 10% de concentração, ela vai ter uma duração de cinco horas. “É importante orientar o usuário a ler bem a embalagem, tanto na parte da frente quanto na parte de trás, observando se o produto é aprovado pela Anvisa, indicado para adulto ou para crianças e a partir de que idade”, ressalta Fernanda.
Ela pontua que não há uma recomendação de quantidade certa na hora de usar o produto, sendo preciso aplicá-lo apenas de uma forma homogênea, com uma camada adequada. “O mais importante é que você tenha a sensação de que toda a superfície das áreas expostas estejam contempladas pelo spray ou pelo creme”, observa.
Creme ou spray?
“Eu sempre falo que o melhor produto é aquele que você usa. Respeitando as indicações do rótulo, você vai experimentando diferentes marcas, spray e creme e vai vendo qual você se adapta mais”, afirma a dermatologista. A preferência vai pela textura e praticidade dos produtos, que podem vir em spray ou em creme – mas não há diferença de eficácia entre eles.
O spray, por ter uma absorção mais rápida, geralmente é o produto preferido por homens, crianças e esportistas. Já as mulheres tendem a preferir o creme, pela maior hidratação da pele ou ser indicado para quem tem baixa tolerância com odor, que costuma ser mais forte nos aerossóis, variando pela marca ou substância.
Outra dúvida recorrente na aplicação do repelente é se fica apenas nas partes expostas do corpo. De fato não é indicado aplicar o produto no corpo todo e depois colocar a roupa, porque isso pode diminuir a evaporação do repelente, que é por onde a substância age.
Em relação ao suor, outra afirmação verdadeira é que ele diminui o tempo de duração do repelente. Para quem faz muita atividade física e sua muito, o repelente em spray nas áreas expostas é indicado por ter uma absorção mais rápida. Algumas dicas são se secar com toalhas e usar roupas arejadas com mangas compridas e calças que não retenham o suor, como as de dry fit, que são muito utilizadas por atletas.
“Altas temperaturas, suor, tudo isso atrai, então é uma receita que aumenta a chance de você ser picado, porque tanto de manhã quanto no fim da tarde o mosquito tem o hábito de frequentar esses ambientes”, destaca Duran.
Também não é recomendada a aplicação de repelentes dentro de casa durante o período noturno, antes de dormir, visto que a alta concentração em ambientes fechados pode causar intoxicação. Nessas situações, o ideal é a utilização de mosquiteiros, telas nas janelas e repelentes elétricos que tenham certificado da Anvisa, e que devem estar localizados a pelo menos dois metros das camas.
Vitamina B ajuda?
Nas décadas de 1960 e 1970 surgiram hipóteses de vitaminas do complexo B ajudarem na proteção de doenças como a dengue. De acordo com Fernanda Duran, foram feitos dois grandes estudos que não demonstraram a eficiência da vitamina B para isso.
Contudo, é comprovado que ter bons hábitos alimentares, uma boa qualidade de sono, evitar o álcool e o cigarro, ter níveis adequados de vitamina D e controlar o estresse aumentam a imunidade natural – que tem grande impacto no combate à enfermidade e na gravidade que a doença se manifesta.
A especialista observa também, assim como tem sido orientado por diversos órgãos da saúde no DF, que o uso dos repelentes é uma estratégia importante, mas deve estar combinada com as outras medidas, como evitar os focos de dengue dentro de casa e no ambiente de trabalho, evitando água parada em todas as formas. “Tudo isso junto é que vai aumentar a chance de a gente vencer essa batalha contra essa doença que tem uma mortalidade e está tendo um grande número de casos neste ano”, reforça.