A comunicação não é mais uma barreira para a comunidade surda na hora de utilizar um atendimento público no Distrito Federal. Com o Programa DF Libras, a pessoa com deficiência auditiva pode se comunicar com atendentes ouvintes sem dificuldades, acessando os órgãos públicos de forma digital, em tempo integral e em todos os dias da semana.
O serviço é uma parceria entre a Secretaria da Pessoa com Deficiência (Seped-DF) e a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti-DF), funcionando por meio do aplicativo Icom Libras, tanto de forma presencial quanto online. Na modalidade presencial, basta efetuar o agendamento para que um intérprete seja designado à pessoa. O encontro pode ser na Central de Libras, que fica na 112 Sul, ou no próprio local de atendimento, como uma unidade básica de saúde, por exemplo.
Para utilizar o modo online, basta acessar o serviço pelo QR Code para ser direcionado ao programa, em que um atendente fará a interpretação na tela para a pessoa surda e a tradução para o ouvinte do outro lado. Cada secretaria possui um QR Code específico que fica exposto nos balcões de atendimento.
Atendendo uma comunidade que chega a 20 mil pessoas surdas no Distrito Federal, o aplicativo não gasta internet durante o uso e é gratuito. A internet só é utilizada para baixar o aplicativo ou abrir o QR Code. Com R$ 450 mil de investimento no programa, recursos de uma emenda parlamentar do deputado Iolando, já são 153 espaços públicos com acesso facilitado a intérpretes da Língua Brasileira de Sinais (Libras).
Acessibilidade 24h
Um dos pontos importantes proporcionado pelo serviço é a tradução na hora de um atendimento médico, para a compreensão direta e simples de medicações e procedimentos, sem a necessidade da intermediação de um parente, amigo ou outra pessoa.
“Existe uma necessidade da universalização do serviço público para todas as pessoas terem acesso a quaisquer iniciativas públicas. É uma questão de inclusão e acho que, na maioria dos casos, o DF Libras não só melhora o acesso, como o permite. Eventualmente uma pessoa vai ter um momento de consulta médica, por vezes um momento íntimo, sem alguém acompanhando. E com esse tipo de ferramenta vai ser possível que isso aconteça”, frisou o secretário executivo da Secti, Alexandre Villain.
Ele também atentou para o fato de que o serviço é seguro e oferecido por uma empresa já conceituada na área de comunicação acessível, cumprindo a legislação no que tange ao atendimento diferenciado para as pessoas surdas nos órgãos públicos.
“Também estaremos nas áreas de segurança, social, educação e em todos os principais pontos de atendimento onde a população procura os serviços do GDF, para que facilite essa comunicação e essa acessibilidade”, pontuou o secretário da Pessoa com Deficiência, Flávio Santos. Ele acrescentou que o Governo do Distrito Federal atualmente está priorizando as áreas de saúde, pela alta procura das unidades em decorrência da epidemia da dengue.
O aplicativo está em funcionamento pleno desde o dia 11 de dezembro de 2023. O diretor de acessibilidade comunicacional da Secretaria da Pessoa Com Deficiência, Valdimar Carvalho da Silva, ressaltou a importância do serviço integral, que já teve cerca de mil atendimentos presenciais e remotos.
“Por exemplo, uma grávida não sabe o horário que vai nascer o bebê. De madrugada, aconteceu, e aí, como é que vai fazer a comunicação dela? A DF Libras vai lá e salva nesse momento. Na polícia também, em alguma ocorrência vai precisar. Os ouvintes já têm 24 horas, agora os surdos também”, observou.
Atendimento sem barreiras
Mohammadullah Ahmadi, 22 anos, utilizou o serviço na UBS 2, localizada na Entrequadra 114/115 da Asa Norte. Refugiado do Afeganistão, ele mora há dois anos em Brasília e contou que desde que chegou ao país recebeu um grande apoio da Central de Interpretação de Libras, da Secretaria da Pessoa com Deficiência, e que enfrentava muita dificuldade de comunicação no país de origem.
“Ao chegar aqui, eu via que tinha muito bloqueio de comunicação com os ouvintes. Quando me deparei com o DF Libras, trabalhando 24 horas para trazer comunicação para nós, nossa, que mudança, porque aquilo que era um bloqueio, agora se tornou uma realidade, trazendo uma acessibilidade de vida para mim. Estou muito feliz por isso”, declarou.
A digitalizadora Daniella Queiroz de Almeida, 24, também tem deficiência auditiva e utilizou o serviço na UBS da Asa Norte. Ela recorda como eram as barreiras de comunicação antes do DF Libras. “A gente sofria bastante, tinha que escrever, mandar mensagem, fazer texto de saúde no celular, às vezes não tinha compreensão de algumas palavras. Com a criação do programa é possível todos se comunicarem nos órgãos públicos com autonomia e de maneira mais plena.”