Por: Antonio da Costa Neto
“O maior, talvez o único problema da educação e da escola é o ideológico”, isto citando o então Senador da República Cristovam Buarque foi a frase que nunca mais tirei da cabeça e que redirecionou minha vida, meus estudos e minha atuação profissional como educador desde que a ouvi em uma palestra na Universidade de Brasília – UnB. Historicamente falando a ideia de escolas formais e estruturadas como as que ainda hoje temos surge na Europa, no século 12, da nossa era. Tendo como motivação principal o advento das primeiras tecnologias e a expansão do chamado capitalismo centralizador. O que fez surgir o medo da evolução natural da espécie humana que precisava ser devidamente vigiada e censurada no seu desenvolvimento, fruto da ganância já exacerbada dos detentores do poder já naquela época.
De lá para cá, ao menos em essência, parece que as coisas não mudaram muito. A educação formal, assim como as escolas e os professores, sob os auspícios das novas tecnologias, dos recursos educacionais, da psicologia e da didática – que chamam estrategicamente de recursos pedagógicos – se esqueceram de analisar com profundidade as entrelinhas que existem debaixo de cada um destes instrumentos. Eles, por fim, mais adestram, treinam, confinam as cabeças ao invés de educar para o real desenvolvimento humano e a superação dos desafios de um mundo já tão tumultuado. E isto precisa, além de ser repensado, ser refeito com a máxima urgência.
Existe o discurso flamejante de que a educação é que irá ajudar a suprir desafios e resolver problemas. E uma luta tremenda para que todos, em idade escolar frequentem a escola. E, na verdade, elas estão aí, abarrotadas de alunos, repletas de professores e funcionários que cumprem seus horários, dão aulas, aplicam provas. Enquanto isso, os mesmos exatos problemas, desafios, horrores só aumentam e se ampliam. Pelo que podemos ver é uma contabilidade que não fecha.
É que existem educação e educação, escolas e escolas, educadores e educadores, e, justamente, o referencial ideológico que permeia esta ação é ainda meio obscuro, à revelia da astuta formação de professores, o papel da universidade, inúmeras pesquisas, estudos e teses, que, infelizmente, abrangem a um enorme crescimento quantitativo, mas não se adensa na qualidade de se passar a estudar o que, exatamente, em termos educação é preciso que seja estudado. Ou seja, o construto ideológico, os jogos de poder, as entrelinhas do que está por detrás de tanta evolução tecnológica da profissão do educador, mas não referendando humana, social, ecológica, política e didaticamente o ato educativo em si, os processos que desencadeia e os resultados a que deveria chegar – mas não chega.
Só iremos superar tudo isto se os educadores compreenderem na teoria e mudarem nas suas práticas os subterfúgios adestradores a serviço da concentração do poder e da renda, justamente, os grandes causadores dos problemas macro que o planeta enfrenta. Assim, a obrigatoriedade compulsiva de ter que frequentar a escola e de abaixar a cabeça diante de subterfúgios ditados, impostos e não negociados por quem os cumpre, usar uniformes, responder a provas inquisitivas, definitivamente, não fazem parte de uma educação que o Brasil e sua sociedade requerem e precisam.
Lugar da criança é sim na escola. Mas estamos falando da escola que educa, abre perspectivas, agrega os saberes que vão colaborar na implementação das mudanças necessárias e não, o contrário. Em nossas escolas precisamos de indução e dedução simultâneas e não mais, estanques e separadas o que é, na verdade, um processo de imposição de poder e de formar gente subserviente, omissa, manipulável e pouco produtiva. É necessário, portanto, que o aluno argumente e para isso terá de ter voz, vez, oportunidade de optar, escolher, decidir.
Por enquanto a educação formal, em todo o mundo, ainda não despertou para isto. E não fala esta linguagem. Na maioria das vezes, conforma, treina, adestra, confina o produtor e consumidor em potencial, faltando muito para que ela forme o cidadão completo, inteiro, capaz. Formar agentes, atores da própria história e não mais, assistentes passivos que sofrem, não reclamam e nem questionam. Educação e escola precisam sim, construir uma nova história.
*Professor Antonio da Costa Neto diretor presidente do Instituto Humanizar