Considerações sobre a militarização das escolas

Alunos punidos por violações das regras militares sentem-se humilhados e desmoralizados

Sandra Mara Bessa
Por Sandra Mara Bessa  - Professora 3 Min Leitura
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A padronização dos estudantes, eliminando inclusive diferenças na aparência física, remete inclusive a estereótipos raciaisImagem: Divulgação/PMDF
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A militarização das escolas é uma política educacional cujo objetivo se situa em melhorar a segurança nas escolas, além de promover a disciplina entre os alunos. No entanto, há uma série de problemas associados a essa decisão que devem ser considerados.

Uma das maiores críticas em relação à militarização é o retrocesso em relação à instituição da gestão democrática, prevista na legislação que rege a educação no Brasil, criando-se impasses entre a orientação disciplinar imposta pelo regramento militar e a orientação pedagógica proposta no Projeto Político Pedagógico de cada unidade escolar. Estes impasses se evidenciam em inúmeras situações em que o que se considera indisciplina por uns, é visto como direito por outros.

Outro problema diz respeito à forma como se abordam questões pedagógicas já definidas como pontos pacíficos, como o fato de a aprendizagem se dar por meio do diálogo e da interação. Nas escolas militarizadas, os alunos são expostos a uma proposta que enfatiza a hierarquia e a obediência, em detrimento de uma visão crítica da sociedade. Tal percepção contraria o que prevê a Lei de Diretrizes e Bases como a liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento diverso e o saber científico; a diversidade de concepções pedagógicas; e o apreço à tolerância.

Como consequência da imposição de uma ideologia que desrespeita as diferenças e tenta homogeneizar comportamentos, coíbe-se a liberdade de expressão e a participação política dos alunos, o que não prepara nossas crianças e adolescentes para o exercício da cidadania, em que se compartilham responsabilidades, condena-se a censura e suprimem-se as diversidades. A padronização dos estudantes, eliminando inclusive diferenças na aparência física, remete inclusive a estereótipos raciais.

Prejuízo para a saúde mental

Nesse sentido, evidencia-se grave prejuízo para a saúde mental dos alunos que experimentam estresse, ansiedade e depressão ao serem instados a renegar suas origens e orientações, especialmente no que tange a questões que remetam às mais diferentes formas de discriminação. Os alunos punidos por violações das regras militares sentem-se recorrentemente humilhados e desmoralizados. Tal situação evidencia a desconsideração de parte dos militares sobre questões relacionadas à psicologia infantil e do adolescente.

Além disso, a militarização pode levar a uma cultura de medo e intimidação nas escolas, o que efetivamente não contribui para a aprendizagem, função primeira da escola. Por fim, à revelia das intencionalidades na implantação desse modelo educacional, a militarização não tem se mostrado eficaz para reduzir a violência nas escolas. Estudos mostram que as escolas militarizadas não têm taxas de violência menores do que as escolas não militarizadas, o que elimina, por si só, a argumentação em torno de sua propositura.

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Posted by Sandra Mara Bessa Professora
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Gestora de projetos e especialista em Educação
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