Ao longo dessa semana, o foco das discussões tem se voltado para homens e mulheres que tratam bebês reborns como se fossem filhos de verdade, em algumas situações, extrapolando inclusive o bom senso. Esse tema, no entanto, não pode e não deve ser tratado de maneira superficial. São muitas as camadas existentes aí e hoje, em nossa coluna, trataremos de algumas dessas camadas que se relacionam diretamente com a educação.
Camadas
Dentre as diversas camadas possíveis de análise, está a questão de se supervalorizar ações que são pontuais e não representam parte significativa da população em uma tentativa de se ampliar os mercados dessas bonecas que geram lucros milionários em todo o mundo, tendo em vista que algumas delas podem chegar à cifra de vinte mil reais. Para além da questão mercadológica, há também que se considerar aspectos como a perspectiva exagerada por um pequeno grupo no sentido de se desvalorizar as mulheres, apontando-lhes uma infantilização equivocada e generalizada, além de atacar os movimentos feministas pela carência dessas mulheres, questionamento que não alcança, por exemplo, homens e seus vídeo games.
Em outra rota, vemos também a necessidade de algumas pessoas de se sobressair por meio de recursos incomuns, de maneira a chamar atenção pela bizarrice mesma da situação provocada como entrar na justiça pedindo-se compartilhamento de guarda ou exigindo que o SUS atenda ao pseudo filho/filha. Ao adotar esse comportamento esdrúxulo, as pessoas veem holofotes se virarem para si, passando a celebridades instantâneas que tomam conta das redes midiáticas. Para quem vive no ostracismo e sonha com um pouco de luz na própria vida, nada melhor do que gerar engajamento por meio do absurdo.
Por fim, como última camada que abordaremos aqui, recorremos à psicologia ao explicar que, muitas vezes, a busca por personificação de objetos, animais ou mesmo a dependência de jogos podem se justificar na fuga à complexidade das relações humanas ou ainda se trata de uma forma de mitigar carências afetivas. A falta de satisfação emocional ou a necessidade de validação social podem dificultar a gestão das emoções e o desenvolvimento das competências e das habilidades requeridas para se estabelecer relações sociais saudáveis. Dessa forma, os bebês reborns podem ser indicativos de que estas pessoas canalizaram suas buscas por afeto e atenção para tais objetos.
Inteligência emocional
A percepção subjetiva de que não são dignas de afeto pode, portanto, gerar doenças como depressão e ansiedade que aprofundam os problemas de interação social desses indivíduos. Daí a importância de se trabalhar a inteligência emocional desde muito cedo. Saber lidar com as próprias emoções, com as frustrações e conflitos naturais que as relações sociais nos impõem possibilita amadurecermos com maior resiliência para resistir às dificuldades, e para ter empatia com aqueles que enfrentam tais disfuncionalidades. Investir no desenvolvimento de habilidades que possibilitem nossas crianças identificar, entender e gerenciar suas próprias emoções contribui para uma convivência social mais saudável e positiva.