Esta semana, fomos arrebatados, por mais uma vez, nas redes sociais, com a notícia que trazia o caso de apologia ao estupro praticada por alunos calouros do curso de Medicina da Faculdade Santa Marcelina. O fato se deu em um jogo de handebol organizado pelas atléticas da faculdade, organizações estudantis que promovem a prática de esportes, a interação entre os alunos e a realização de eventos acadêmicos, festivos ou culturais. Os alunos de Medicina resolveram que seria razoável apresentar uma faixa com os dizeres “entra porra escorre sangue”, numa clara normalização do estupro.
Para além da gravidade da situação em particular, em função do flagrante crescimento dos casos de violência contra a mulher em todo o país, trata-se do absurdo de se circunscrever ao curso de Medicina, profissionais que, futuramente, atenderão milhares de mulheres. E quantos casos não temos visto de abuso contra mulheres por médicos? Não é mais possível admitir que pessoas com tal mentalidade saiam ilesas dessas situações. É preciso punição exemplar de maneira tal que as pessoas passem a refletir sobre o que aceitam como normal, sobre o que é admissível na perspectiva de valores e princípios os mais profundos.
Atlas da Violência de 2024
E ao contrário do que muitos podem supor, o caso em referência não é isolado. São recorrentes as histórias de etarismo, racismo, misoginia, aporofobia em nossas universidades. Segundo o IPEA, ao apresentar o Atlas da Violência de 2024, são robustos os estudos que mostram a transmissão intergeracional da violência, ou seja, mulheres que veem suas mães sofrerem violência têm grandes chances de passarem pela mesma situação na vida adulta e homens que veem suas mães sofrerem violência tendem a reproduzir tal violência em suas relações.
Para ilustrar ainda mais o cenário da violência contra as mulheres brasileiras, os dados do Dossiê Violência Contra as Mulheres, do Instituto Patrícia Galvão apresenta dados como: 5 espancamentos a cada 2 minutos (Fundação Perseu Abramo, 2010); 1 estupro a cada 11 minutos (Anuário da Segurança Pública, 2015); 1 feminicídio a cada 90 minutos (IPEA, 2013); 179 relatos de agressão por dia (Balanço Ligue 180, 2015); e 13 feminicídios por dia em 2013 (Mapa da Violência, 2015). Outro dado relevante: 117 mulheres trans foram assassinadas no Brasil em 2024.
Desumanização e banalização da violência
A pergunta é: Por que trazer tal tema e tais dados para uma coluna de educação? A resposta é simples e pode ser respondida com outra pergunta: Onde estão as famílias e demais instituições sociais responsáveis pela formação desses meninos, jovens e adultos que permanecem a estuprar, violentar, abusar sem limites nesse processo de desumanização e banalização da violência que se evidencia em suas ações e em seus discursos? É preciso educar para a paz, para a ética, para o respeito ao ser humano que está no outro, em toda a sua diversidade! É tempo de deixar de lado o preconceito e a discriminação decorrentes da ignorância e do desconhecimento. Não podemos nos calar diante da barbárie