As inscrições para o 2º Circuito Brasiliense da Mulher se esgotaram em apenas 25 minutos. Para quem acompanhou a primeira edição, o sucesso não foi surpresa. Mas para a deputada Doutora Jane, apoiadora da iniciativa, esse é um termômetro valioso: “Brasília tem essa vocação para a corrida, mas esse evento vai além. É um momento só delas. Um espaço de saúde física, mental e também de pertencimento”.
A parlamentar participou da corrida no ano passado, correu junto com outras mulheres e pôde ver de perto o impacto de uma ação pensada para acolher. “Vi mães com filhos pequenos, maridos apoiando, famílias inteiras reunidas. É mais do que uma competição. É um encontro que desperta algo que vai além do corpo. Toca o coração”.
A próxima edição já tem data marcada: será no dia 27 de abril. E promete repetir — ou até superar — o sucesso anterior. Para a deputada, esse engajamento crescente mostra que as mulheres do DF estão dispostas a ocupar os espaços públicos e fazer da corrida um símbolo de resistência.
Rede de proteção
E é esse espírito de união que ela tenta transformar em política pública. Doutora Jane é autora da lei que criou os Comitês de Proteção à Mulher, uma rede de acolhimento regionalizada que já chegou a sete regiões administrativas e, segundo a lei, deve alcançar todo o DF. “O nosso sonho é que esse comitê seja para a mulher o que o conselho tutelar é para a criança. Um ponto de apoio, de escuta e orientação.”
A parlamentar reconhece os avanços, mas é enfática: ainda há um abismo entre a estrutura e o acesso. “Temos uma rede robusta, mas ela não é usada em toda sua capacidade. Muitas mulheres não sabem que existe. Outras têm medo de procurar. Falta confiança. Falta amparo familiar. Falta a certeza de que, ao denunciar, não vão sofrer ainda mais”.
A complexidade por trás do silêncio
Ela fala com a experiência de quem já ouviu muitas histórias de dor, medo e silêncio. “Tem mulher que mora perto do comitê e não sabe que ele existe. Isso não pode acontecer. Precisamos divulgar, bater nessa tecla. A mulher precisa saber que tem onde buscar ajuda. E mais: precisa acreditar que será acolhida, não julgada”.
Entre as principais barreiras enfrentadas pelas vítimas de violência doméstica, ela cita o medo da revitimização, a vergonha social, a dependência emocional e financeira, e a falta de apoio familiar. “Não existe um motivo só. Cada caso é único. Por isso, o atendimento também precisa ser personalizado. Não é só dizer ‘sai dessa’. É entender o contexto e caminhar junto”.
Educar é também prevenir
Com esse olhar sensível e ao mesmo tempo técnico, Doutora Jane também criou o programa Educa por Elas, que torna obrigatória a discussão sobre respeito e não violência nas escolas, públicas e privadas, do Distrito Federal. A ideia é simples, mas poderosa: prevenir, desde a infância, a normalização da violência. “A raiz está no machismo. Está nessa ideia equivocada de que o homem manda, decide, controla. Precisamos desconstruir isso desde cedo, com diálogo, com arte, com afeto. A escola é o lugar ideal para isso”. Já pensou uma corrida infantil? Seria lindo. Tudo que aproxima as pessoas do cuidado com o outro vale a pena”. Doutora Jane, deputada
E se engana quem pensa que ela trata o tema com leveza apenas no discurso. A deputada tem se dedicado a fortalecer ações comunitárias durante o ano inteiro. Fala com entusiasmo sobre datas como o Dia das Crianças ou o fim do ano, quando apoia eventos sociais nas comunidades, e já sonha alto: “Já pensou uma corrida infantil? Seria lindo. Tudo que aproxima as pessoas do cuidado com o outro vale a pena”.
Para ela, políticas públicas eficazes não podem nascer apenas nos gabinetes. Precisam ser construídas com o povo, com os pés no chão e o coração aberto. “Cada atividade do nosso mandato é um laboratório. Se dá certo, replicamos. Se precisa melhorar, ajustamos. O importante é não parar”.
O Circuito Brasiliense da Mulher, apoiado pela deputada e promovido com execução da Secretaria da Mulher, já se desenha como um dos eventos mais queridos da capital. E, mais do que isso, tem o poder de se tornar símbolo de resistência, de empoderamento e de transformação.
Quando uma mulher corre, ela está dizendo que se movimenta. Que quer ir além. Quando corremos juntas, é um recado coletivo: estamos aqui, umas pelas outras. Pela saúde, pela liberdade, pelo direito de viver sem medo”, afirma a deputada.
E a política, quando feita com alma, também corre. Corre para alcançar quem mais precisa. Corre para não deixar ninguém para trás.