O Governo do Distrito Federal (GDF) está intensificando as medidas para combater a comercialização ilegal de passagens de ônibus, atividade praticada pelos chamados “valeiros”. Para frear as fraudes e reduzir os prejuízos ao sistema de transporte, a Secretaria de Transporte e Mobilidade (Semob) e o Banco de Brasília (BRB) decidiram expandir o uso da tecnologia de reconhecimento facial nos cartões de gratuidade que ainda não contam com o sistema, incluindo os destinados a pessoas com deficiência (PCDs) e idosos com mais de 60 anos.
A decisão foi tomada após reportagem do Correio revelar o esquema de fraudes e seu impacto financeiro. Atualmente, apenas os cartões de vale-transporte, mobilidade e estudantis possuem o sistema de verificação facial, medida que tem sido eficaz na prevenção de fraudes.
De acordo com o secretário da Semob, Zeno José Andrade, a ausência da biometria nos cartões de PCDs ocorre porque esses cartões garantem gratuidade também para acompanhantes. No caso de cadeirantes, a impossibilidade de passar pela catraca impede a adoção do reconhecimento facial. Já os idosos podem acessar os ônibus apenas apresentando documento de identidade com foto, o que também dificultava a implementação da tecnologia. No entanto, Andrade avalia que a biometria será essencial para coibir o uso indevido dos cartões.
Fraudes causam prejuízo milionário
O sistema de transporte público do DF custa cerca de R$ 2,7 bilhões ao ano, incluindo a ampliação da frota e campanhas de conscientização. Contudo, fraudes como a venda irregular de passagens geram perdas anuais de aproximadamente R$ 162 milhões, valor que poderia ser investido na melhoria da infraestrutura e na expansão do serviço.
O secretário acredita que a implantação da tarifa zero, anunciada pelo governador Ibaneis Rocha, ajudará a desestimular essa prática. A medida, que entra em vigor em março, permitirá gratuidade no transporte público aos domingos e feriados. “Isso reduzirá significativamente o uso indevido dos cartões”, destacou Andrade.
Fiscalização e investimentos
Para o deputado Max Maciel (PSol), presidente da Comissão de Transporte e Mobilidade Urbana da Câmara Legislativa (CLDF), o combate às fraudes exige mais do que a modernização tecnológica. Ele defende a ampliação das equipes de fiscalização nos terminais e investimentos na expansão do metrô e outros modais. “A venda ilegal de passagens gera lucro imediato para os fraudadores, mas causa um rombo no sistema. É essencial reforçar a fiscalização e ampliar a oferta de transporte”, afirmou.
Apesar das medidas repressivas, passageiros reconhecem que recorrem ao comércio ilegal para economizar. “Sei que é errado, mas quando estou sem crédito e preciso pagar menos, compro com os valeiros”, admitiu um usuário sob anonimato.
A atuação dos fraudadores não se limita à Rodoviária do Plano Piloto. Relatos apontam forte presença do esquema em terminais de Ceilândia e Planaltina, ampliando o desafio das autoridades no combate à prática ilegal.