Neste ano, tivemos as Olimpíadas. E foram muitos os momentos em que pudemos verificar os inúmeros benefícios trazidos para a construção da cidadania e para o desenvolvimento de competências cognitivas, físicas e comportamentais dos indivíduos quando participamos de práticas desportivas. Dentre outras coisas, o esporte estimula a socialização, inspira a tolerância, promove a solidariedade e a cooperatividade, cultiva a autoestima e o respeito ao próximo, incentiva a colaboratividade, o trabalho em equipe, a disciplina e o espírito de liderança.
Quem não se emocionou, por exemplo, com a atleta brasileira do Handebol Tamires Frossard carregando no colo sua adversária angolana que se machucou no jogo? Nem as suas próprias companheiras tomaram tal iniciativa. Quem ainda não viu o respeito e a solidariedade diante das falhas entre Rebeca Andrade e Simone Biles? O sentimento olímpico estava presente nas disputas, nos encontros fora do ginásio e nas entrevistas. O idealizador do evento, o francês Pierre de Coubertin, estaria orgulhoso em ver tais virtudes evidenciadas nos jogos.
Reconhecimento esportivo
Para além, no entanto, do que os jogos e os atletas nos ensinaram, deveríamos aprender outras tantas coisas, quais sejam: a solidariedade com nossos atletas que não ganharam medalhas ou que ganharam medalhas de bronze e de prata, que para tantos são encaradas como de menor valia. É preciso educar nossas crianças, jovens e adultos para esse espírito de empatia e de reconhecimento do valor de cada um e de cada uma que ali estava. Apenas o fato de ser selecionado a participar das Olimpíadas já deveria ser suficiente para que fossem ovacionados e guardados na memória coletiva do país que representam.
Inclusão e valorização feminina
Outro registro fundamental que pode nos ensinar muito é a participação efetiva das mulheres nessa edição em Paris. No Brasil, em específico, tivemos pela primeira vez na história um número maior de atletas mulheres que de homens e a maior parte de nossas vinte medalhas foram trazidas por mulheres, sendo que todas as nossas medalhas de ouro foram de mulheres. E o que podemos aprender com isso? Que tal pensar em inclusão, em reconhecimento, em valorização dessa força feminina sempre tão oprimida pelas mais diversas razões, seja no campo da vida pessoal ou profissional?
Ratifico, portanto, a ideia de que devemos educar para compartir e não para competir, no sentido de não ignorar os valores humanos presentes nos jogos. Que possamos ensinar que a conquista de uma medalha é o sonho de cada atleta que participa das Olimpíadas. A frustração que advém de uma derrota ou de uma lesão durante a competição pode ser avassaladora para quem tanto se preparou para esse momento. Abraçar cada um e cada uma que nos representou em Paris, independente de medalhas, é sinal de maturidade emocional e social.