Ao pensar sobre o que traria para nossa coluna semanal, deparei com uma fala de meu querido Drummond, que dizia assim: “A escola enche o menino de matemática, de geografia, de linguagem, sem, via de regra, fazê-lo através da poesia da matemática, da geografia, da linguagem. A escola não repara em seu ser poético, não o atende em sua capacidade de viver poeticamente o conhecimento e o mundo?”. E fiquei a me perguntar que espaço é esse o da escola. Seria apenas o espaço de construção de conteúdos?
Embora tenha me feito tal pergunta, tenho convicção da única resposta possível, posto que há muito mais do que conteúdos acadêmicos a serem aprendidos na escola. Como microcosmo social, há que se compreender a escola como lugar de aprendizagens múltiplas, das mais simples às mais complexas. Lugar de assonâncias e dissonâncias tantas e variadas que, em conjunto, formam o sujeito que somos em eterna construção. E esse desenvolvimento do ser humano adulto em formação vai muito além do conteudismo tão valorizado em nossos bancos escolares.
Função social de educar
E essa concepção de escola não deveria causar tanto estranhamento quando pensamos na função social de se educar, posto que não raro encontramos documentos oficiais que apontam a imprescindibilidade de se educar para a vida. A obrigação de cuidar da formação integral de nossas crianças e adolescentes é senso comum entre educadores, teóricos e legisladores. Cabe à escola e às famílias ajudá-los a desenvolver suas percepções da realidade vivida, ampliando sua leitura de mundo.
Dos adultos, espera-se que ensinem às crianças e aos adolescentes seus direitos e deveres com a sociedade, formando cidadãos capazes de transformar a sociedade e torná-la mais justa. É um espaço rico de socialização, de dialogia e de interações humanas. É fundamental, portanto, que pais e professores se conscientizem desse papel da escola no desenvolvimento de habilidades e de competências sociais e emocionais por meio de uma atuação mais humanizadora, possibilitando a cada um e a cada uma pensar sobre si e o outro no mundo.
E, ao refletir sobre tantas camadas possíveis de reflexão presentes, imediatamente, veio à minha memória afetiva advinda da literatura, outro autor que amo, Mia Couto que sabiamente nos alerta: “A infância não é um tempo, não é uma idade, uma coleção de memórias. A infância é quando ainda não é demasiado tarde. É quanto estamos disponíveis para nos surpreendermos, para nos deixarmos encantar. A infância é uma janela que, fechada ou aberta, permanece viva dentro de nós.”.