Interessante perceber que essa coluna de hoje reúne os temas (Tecnologia, Violência e Educação) de nossas colunas anteriores. E nos pegamos a imaginar como estes três temas podem se relacionar diante da discrepância que deveriam manter entre si. No entanto, precisamos entender em que momento e de que forma estamos falhando, como sociedade, na educação de nossas crianças e jovens nesse contexto das violências praticadas em ambientes virtuais.
A um só tempo em que reconhecemos a necessidade de inserir as tecnologias digitais de informação como parte da educação no sentido de dar espaço para a inclusão em uma sociedade digital, precisamos também nos perguntar sobre como fazer isso com segurança. As cenas de horror noticiadas nesta semana em que meninas são violadas psicológica e fisicamente são inadmissíveis em uma sociedade que se quer civilizada.
Devemos compreender que estamos diante de um grave risco social em que se quebram as normas mais básicas de um contrato civilizatório minimamente aceitável. Podemos aqui afirmar que as violências, em suas diferentes manifestações, sempre existiram, mas não há como fechar os olhos para a sua capacidade de propagação por meio dos avanços tecnológicos. Precisamos, dessa forma, encarar o fato de que as redes sociais apenas amplificam os comportamentos já existentes, potencializando-os. No que tange à ampliação desse comportamento violento nas redes sociais, chama atenção ainda a ideia de que o anonimato de alguma forma garante a impunidade.
O caminho a ser trilhado
É fundante também reconhecermos que a solução não está em cercear o acesso de crianças e jovens a esse mundo que se abre a um enorme potencial de aprendizagem. O caminho a ser trilhado deve, assim, passar por um rigoroso marco regulatório da internet, que permite compreender, localizar, coibir tais violências contra quem quer que seja. O ciberespaço não pode ser terra de ninguém e as pessoas precisam ser educadas nesse sentido. E todos precisam ser educados para a não violência em qualquer espaço em que se insiram; para a superação do uso ingênuo de redes sociais e para uma convivência social saudável que não empurre as pessoas para um mundo de fantasias em que tudo é permitido.
Por fim, esse é um momento muito propício para se abrir um debate em que é imprescindível refletir sobre algumas questões: Como estes jovens são capazes de tamanha crueldade? O que os move? Que ódio é esse que trazem consigo e é facilmente alimentado em redes sociais que privilegiam crimes em favor de uma pseudo liberdade? Quem tem ganho por trás dessas violências? Onde estão as instituições sociais que deveriam ensinar amor, compaixão, respeito, empatia? Qual nosso papel nesse contexto?