Nos últimos tempos, temos vivenciado processos constantes de mudanças que se configuram como uma verdadeira ruptura de concepções no que tange à educação. A pandemia obrigou-nos a todos, educadores, pais e estudantes, a repensar como se caracteriza a escolarização brasileira e como as desigualdades sociais impactam fortemente na garantia constitucional do direito à educação de qualidade. Precisamos, portanto, refletir sobre o modelo educacional presente e as diferentes formas de aprender que estão ao nosso dispor.
Nesse contexto, cabe compreender o quanto o avanço das tecnologias tem afetado diretamente a maneira como as pessoas se relacionam entre si, ampliando as comunicações e amplificando a interação social em redes, como também o quanto tem alterado a forma como as pessoas se relacionam com o conhecimento disponível. A pergunta que persiste diz respeito a quem cabe educar, pois que estamos todos a nos educar constantemente nos mais diversos meios. A consciência de que estamos educando uns aos outros e a nós mesmos permanentemente muda radicalmente a forma como encaramos a aprendizagem.
Dessa forma, devemos pensar se estamos preparados para realizar essa aprendizagem com a qualidade devida. Conseguimos realizar com seriedade e pertinência a curadoria das informações disponíveis? Mapear e selecionar o que é relevante em meio ao turbilhão de dados e informações não são tarefas fáceis e requer trabalho árduo. O caminho para realizar essa curadoria é individual e intransferível, mas deve se basear especialmente no bom senso ao se verificar a veracidade do conteúdo que consumimos e o que de fato é primordial para nossa aprendizagem.
Desenvolvimento de competências
Em outra perspectiva, é fundamental reconhecer que o papel da escola e da família deve se alterar diante dessa realidade quando se trata de educar. Mais do que se preocupar com a transmissão de conteúdos, há que se preocupar com o desenvolvimento de competências para aprender a aprender e de forma contínua, permanente, consciente e intencional. Desenvolver habilidades de leitura crítica, de autoria, de autonomia diante das informações com que se depara é mais importante do que ter memorizados nomes, fórmulas ou similares. Esse paradigma que infesta nossas escolas precisa ser ultrapassado no sentido de que não podemos ser meros consumidores do pensamento alheio, mas coautores nesse processo de dar sentido ao que lemos e ao mundo a nossa volta.
Assumir, desta feita, o protagonismo da própria aprendizagem gera uma nova forma de lidar com a realidade presente e suas premências. Saramago, em seu Ensaio sobre a cegueira, já nos alertava “Costuma-se até dizer que não há cegueiras, mas cegos, quando a experiência dos tempos não tem feito outra coisa que dizer-nos que não há cegos, mas cegueiras”. E cabe a cada um de nós superarmos a cegueira insana da aceitação tácita e sem crítica, porque podemos sempre aprender em todo lugar e a qualquer tempo.